Por aqui no Rio Grande do Sul, a cinéfila Roberta Pinto já teve passagens por importantes veículos de comunicação. Como gosta de dizer, é fã de cinema desde que se “conhece por gente” e encontrou no Jornalismo uma maneira de expressar o seu amor pela sétima arte. Já são mais de dez anos na profissão, passando por experiências em rádio, TV e online – entre os projetos dela, inclusive, esteve o blog Janela Indiscreta/Em Cartaz. Já quando o assunto é assistir a filmes, um “santíssima trindade” norteia a vida da nossa convidada. Suas escolhas para a coluna são, por isso, baseadas em longas dos três diretores que vocês vão descobrir logo abaixo. E que diretores! Todos os desempenhos escolhidos pela Roberta são inéditos aqui na coluna – e são ainda um excelente guia para quem está querendo começar a procurar interpretações no cinema de diretores clássicos.
Sou uma cinéfila inveterada desde que me conheço por gente. Aprendi a gostar de filmes antes de mesmo de aprender a ler ou escrever. O cinema acabou me levando de forma indireta ao jornalismo onde tive a oportunidade de comentar e escrever sobre….Adivinhou? Ci-ne-ma. E eis que tenho uma “santíssima trindade” quando se trata da sétima arte. São três cineastas que devoto: Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick e Woody Allen. Acho que além do talento para contar histórias de uma forma muito particular (Hitchcock e Kubrick fazem amor com a câmera e Woody Allen com as palavras), os três cineastas também conseguiram extrair desempenhos memoráveis de seus atores.
James Stewart (Um Corpo Que Cai)
O ator encarna com perfeição o perturbado policial obrigado a se aposentar após um trauma e acaba prestando favores como detetive particular para um conhecido. Só que o personagem tem mais profundidade do que isso, e Stewart vai trazendo aos poucos com olhares, sutilezas, expressões, uma camada mais densa. A camada de uma homem obcecado e perturbado, que decide manipular e transformar uma mulher na outra que pensou ter perdido. Sempre gostei de pensar que o personagem tem muito de como o próprio Hitchcock via o feminino: como algo a ser manipulado para o seu prazer. Afinal, era assim que Hitchcock operava com suas estrelas: decidia seus penteados, a maneira de falar, sua postura, suas roupas e até se era ou não o momento de terem filhos (o papel de Kim Novak em Um Corpo que Cai era para ser de Vera Miles que OUSOU engravidar e perdeu para sempre o status de estrela de primeiro escalão no coração do mestre do suspense). James Stewart em Um Corpo que Cai é um perfeito Hitchcock.
Malcolm McDowell (Laranja Mecânica)
Partimos então para outro diretor exigente: Kubrick. Ele tinha mania de perfeição e costumava levar seus atores à exaustão até conseguir uma tomada perfeita. Se ele conseguiu o desempenho perfeito de Jack Nicholson em O Iluminado (já comentado aqui no blog), também extraiu o máximo de um ator que estava em início de carreira quando cruzou seu caminho: Malcom McDowell em Laranja Mecânica. A entrega de McDowell ao personagem foi tão intensa que durante a cena em que Alex é submetido ao tratamento Ludovico o ator teve a sua córnea arranhada pelos pequenos ganchos e ficou temporariamente cego. Num outro exemplo de sintonia entre o ator e seu ator, a cena clássica do estupro, onde Alex canta Singin´ in the rain foi filmada sem ser planejada. Stanley perguntou se McDowell sabia cantar e dançar e o ator improvisou a canção de Gene Kelly. Não precisa dizer que essa cena entrou para história do cinema. Pena que o projeto de Napoleão com direção de Kubrick e McDowell no papel título não saiu do papel. Teria sido interessante de assistir.
Gena Rowlands (A Outra)
Sei que ela já apareceu aqui no blog também, mas não posso deixar e registrar o desempenho de Gena Rowlands em A Outra, de Woody Allen. Woody escreve os melhores papeis que um ator pode desejar, e valoriza muito as atrizes com as quais trabalha. Em A Outra, filme que mostrava uma imersão mais bergminana do diretor nova-iorquino, Gena interpreta uma intelectual prestes a completar 50 anos que parece se concentrar na confecção de um livro aluga um apartamento vizinho a um consultório de psiquiatra. Pela ventilação, Gena escuta as consultas dos pacientes (uma mulher em particular chama a sua atenção) e passa a questionar as próprias escolhas que fez na vida. Uma atriz completa, Gena Rowlands descasca todas as camadas da personagem e termina o filme de uma maneira totalmente diferente de como iniciou, buscando uma sensibilidade que sempre esteve nela, porém adormeceu com o tempo. Sem dúvida um grande desempenho na carreira de uma das melhores atrizes de sua geração.