He went soft. I stayed hard. That was that.
Direção: Ned Benson
Roteiro: Ned Benson
Elenco: Jessica Chastain, James McAvoy, Isabelle Huppert, Viola Davis, William Hurt, Ciarán Hinds, Bill Hader, Jess Weixler, Nina Arianda, Nikki M. James, Wyatt Ralff, Jeremy Shamos, Daron Stewart, June Miller, Julee Cerda, Johnathan Fernandez, Justine Salata
The Disappearance of Eleanor Rigby: Them, EUA, 2014, Drama, 123 minutos
Sinopse: Nova York, Estados Unidos. Connor Ludlow (James McAvoy) e Eleanor Rigby (Jessica Chastain) são casados, mas a incurável dor de um trágico acontecimento a faz deixar repentinamente o marido e a vida que levava até então. Enquanto ela tenta recomeçar e busca novos interesses, ele tenta reencontrar o amor desaparecido e entender o que de fato aconteceu. (Adoro Cinema)
Certa vez li que Namorados Para Sempre é um filme que não funciona porque simplesmente é impossível se importar com um casal que já começa um filme separado. Tal afirmação é de uma tolice tremenda. Ora, desde quando precisamos acompanhar de forma linear todos os passos de uma cartilha romântica para que possamos nos importar com dois personagens? E será mesmo que, na desconstrução de um relacionamento, não conseguimos encontrar as forças que uniram duas pessoas? Sou um grande fã de histórias românticas que não deram certo e muitas delas (que não vou citar aqui para não estragar a surpresa de quem não as conferiu) ganham um lugar especial exatamente porque se aproximam da vida e mostram que as memórias pós-separação podem tornar momentos pregressos ainda mais significativos. Seguindo essa linha, Dois Lados do Amor (mais uma tradução brasileira equivocada e oportunista) evoca novamente a abordagem para falar sobre duas pessoas que vivem jornadas individuais em busca de um recomeço.
Concebido como um filme de duas partes, Dois Lados de Amor chegou a ser exibido comercialmente nos Estados Unidos com esse formato, onde cada um dos volumes explorava mais a percepção de um personagem do que de outro. A versão que chega ao Brasil, entretanto, condensa tudo em um longa de duas horas, também exibida no Festival de Cannes do ano passado. Não existem prejuízos nessa escolha, pois Dois Lados do Amor é bem sucedido ao se focar muito mais na versão de Eleanor (Jessica Chastain) do que na de Connor (James McAvoy). Isso porque ela tem os dilemas mais envolventes, trazendo a história de uma jovem que, após o afastamento, é salva de uma tentativa de suicídio. Figuras femininas por si só normalmente já se destacam em dramas dessa natureza, mas aqui o texto está a favor de Jessica Chastain, especialmente quando o diretor Ned Benson coloca em seu núcleo atores do calibre de Isabelle Huppert, William Hurt e Viola Davis, todos coadjuvantes com pelo menos algum tenro significado na trajetória de recuperação emocional da protagonista.
O início de Dois Lados do Amor pode facilmente enganar e fazer jus a sua equivocada tradução brasileira. Apostando em um tom popular, a história começa mostrando o casal protagonista em um dos maiores clichês de histórias românticas: a divertida fuga do restaurante quando ambos, recém descobrindo as alegrias de uma nova paixão, percebem que estão sem dinheiro para pagar a conta. Mas é apenas questão de tempo para que o tempo avance e encontremos duas pessoas distantes, de vidas separadas e que tentam encontrar algum tipo de recomeço. Aos poucos descobrimos que a tristeza que permeia a vida de Eleanor e Connor é muito mais complexa do simplesmente não terem dado certo como um casal. A partir do roteiro que ele próprio escreveu, o diretor Ned Benson, porém, não faz com que seus personagens explodam em cena ou teçam longos diálogos sobre culpas e arrependimentos. O que existe em Dois Lados do Amor é um tom pausado e melancólico para que adentremos ainda mais no emocional dos dois protagonistas.
Ainda que permeado por uma grande melancolia e um tratamento bastante intimista sobre os reflexos de um rompimento, o longa não chega, por exemplo, ao peso de Alabama Monroe, considerando histórias mais recentes sobre relacionamentos desconstruídos ou acometidos por uma tragédia. De certa forma isso chega a ser um alento (difícil algum filme superar a dor daquele longa sueco), mas não pense que Benson se exime de dar uma devida carga de intensidade ao resultado. A diferença é que aqui ela está focada muito mais nos pequenos momentos, onde Dois Lados do Amor prefere mastigar o mínimo possível para deixar a dor muito mais como uma atmosfera indissipável na vida dos personagens do que como algo escancarado. É nesse silêncio de conversas que sugerem ser sobre assuntos cotidianos mas que na realidade significam muito mais que a experiência se torna tão reflexivo.
A venda errada aqui no Brasil não deve ajudar essa obra atípica e preocupada em mostrar sobre como se sobrevive ou não a uma separação (e a outras tragédias pessoas também). O amor está ali sim, mas fatigado, dolorido e como apenas uma (boa?) memória que hoje já não parece fazer mais tanto sentido. É uma história bem contada, com excelentes atores (James McAvoy se sai bem e continua sendo um dos atores mais subaproveitados da atualidade, ao passo que o ponto alto fica mesmo na atuação de Jessica Chastain) e que não merecia ser disseminada com um viés que simplesmente não é o foco. Se o resultado cru já não é facilmente palatável para muitas plateias, imaginem, então, com as ideias erradas que a distribuidora adotou para levar o filme às salas. Já para quem souber onde está embarcando, certamente essa será uma experiência bastante diferente e recompensadora.
Pelo jeito, o filme sofre do mesmo mal que “Namorados para Sempre”: a inadequação do marketing para vender a obra. Enfim, mesmo assim, quero muito conferir esse filme, principalmente por causa da dupla de atores centrais, dos quais gosto muito!
Kamila, e realmente são dois filmes bastante similares em suas temáticas… O erro de inadequação do marketing foi duplo!