When people talk to each other, they never say what they mean. They say something else and you’re expected to just know what they mean.
Direção: Morten Tyldum
Roteiro: Graham Moore, baseado no livro “Alan Turing: The Enigma”, de Andrew Hodges
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Rory Kinnear, Allen Leech, Matthew Beard, Charles Dance, Mark Strong, James Northcote, Tom Goodman-Hill, Steven Waddington, Ilan Goodman, Jack Tarlton, Alex Lawther, Jack Bannon
The Imitation Game, Reino Unido, 2014, Drama, 114 minutos
Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo britânico monta uma equipe que tem por objetivo quebrar o Enigma, o famoso código que os alemães usam para enviar mensagens aos submarinos. Um de seus integrantes é Alan Turing (Benedict Cumberbatch), um matemático de 27 anos estritamente lógico e focado no trabalho, que tem problemas de relacionamento com praticamente todos à sua volta. Não demora muito para que Turing, apesar de sua intransigência, lidere a equipe. Seu grande projeto é construir uma máquina que permita analisar todas as possibilidades de codificação do Enigma em apenas 18 horas, de forma que os ingleses conheçam as ordens enviadas antes que elas sejam executadas. Entretanto, para que o projeto dê certo, Turing terá que aprender a trabalhar em equipe e tem Joan Clarke (Keira Knightley) sua grande incentivadora. (Adoro Cinema)
É uma boa temporada para os fãs de biografias. Excetuando Foxcatcher, um trabalho realmente diferenciado no formato, vários outros filmes do gênero entraram em cartaz trazendo a velha fórmula segura que garante boa aprovação: história com início, meio e fim bem definidos, roteiro sem maiores ousadias, um bom trabalho técnico e atores empenhados em reproduzir com fidelidade as figuras reais em questão. Foi assim com A Teoria de Tudo e Grandes Olhos, os primeiros filmes a desembarcarem no Brasil entre janeiro e fevereiro. Agora, podemos colocar mais um nessa conta: O Jogo da Imitação, que segue os mesmos padrões dos filmes citados. Ou seja, bom para quem gosta, indiferente para quem busca algo novo.
O que pontua as biografias desse ano é o agradecimento que a sétima arte faz para pessoas injustiçadas ou que trouxeram uma contribuição sem precedentes para a humanidade. Em Grandes Olhos, Tim Burton dá os devidos créditos para a pintora Margaret Keane, que, durante anos, foi vítima da pilantragem de seu marido aproveitador. Em A Teoria de Tudo, vimos a grande superação do físico Stephen Hawking ao enfrentar uma doença degenerativa ao mesmo tempo que construía uma família e dava continuidade a uma brilhante carreira profissional. Com O Jogo da Imitação, é a vez do diretor Morten Tyldum contar a vida do singular matemático Alan Turing, que ajudou o governo britânico em uma conquista decisiva na Segunda Guerra Mundial. Turing foi condenado por ser homossexual (era um crime, na época). A pena? Fazer um tratamento hormonal de dois anos para “conter” sua sexualidade, o que levou o matemático a depressão e ao suicídio.
Quando se concentra nas questões pessoais de Alan Turing, seja na sua infância como garoto prodígio zombado pelos colegas, no seu temperamento difícil (é cheio de si, mas ao mesmo tempo uma figura extremamente frágil) ou na relação de confiança que estabelece com a colega de trabalho Joan Clarke (Keira Knightley, devidamente simpática e contida), O Jogo da Imitação se liberta das tradicionais amarras de um tradicional relato biográfico. E não é só porque o britânico Benedict Cumberbatch, explorando mais o homem inseguro e perdido de Álbum de Família do que o gênio racional do seriado Sherlock, ganha chances maiores para detalhar sua ótima atuação, mas é porque aí que passamos a nos importar mais com Turing e a compreender como realmente funciona não apenas a sua mente, mas também o seu coração.
Turing é um personagem que por si só já seria suficientemente interessante para sustentar um filme como O Jogo da Imitação e talvez o fato do resultado não ser um sonífero se deva justamente a todo esse interesse que o protagonista desperta no espectador. Sem ele, seria uma batalha acompanhar o longa de Morten Tyldum. Ora, não bastasse ser uma biografia, O Jogo da Imitação ainda é ambientado em meio a uma grande guerra, o que aumenta exponencialmente as chances do diretor se entregar ao didático. E é fato: não existe qualquer sinal de que Tyldum, a partir do roteiro escrito por Graham Moore, com base no livro “Alan Turing: The Enigma”, de Andrew Hodges, tenha qualquer vontade de atingir outro espectador a não ser o mais acadêmico.
Previsível em toda a sua construção (óbvio que o texto não poderia deixar de mastigar a todo minuto a abordagem do gênio de ideias transgressoras a quem ninguém dá ouvidos e que no final se revelará o salvador da pátria) , O Jogo da Imitação também reserva espaço para o clichê da frase de efeito dita e repetida do início ao fim. Claro que a reconstituição de época é digna e a trilha sonora chega até a ser inspirada (Alexandre Desplat, de novo!), mas até para alguém como eu, que costuma ser um defensor de filmes com essa pegada, a onda de biografias convencionais já não comove mais. Nem todas precisam transbordar originalidade, só que às vezes pensar um pouquinho além das conhecidas fronteiras já traz um sabor pelo menos motivador. Novamente não é o caso.
“O Jogo da Imitação’ é um filme muito acadêmico. Direção certinha demais, atuações certinhas demais, parte técnica certinha demais. Mas gostei do filme ter ido além ao discutir a questão do Alan Turing e a forma como a Inglaterra tratava os homossexuais nas décadas de 1940 e 1950.