Boyhood: Da Infância à Juventude

You know how everyone’s always saying seize the moment? I don’t know, I’m kind of thinking it’s the other way around, you know, like the moment seizes us.

boyhoodposterDireção: Richard Linklater

Roteiro: Richard Linklater

Elenco: Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater, Steven Chester Prince, Jamie Howard, Libby Villari, Ryan Power, Andrew Villarreal, Bonnie Cross, Elijah Smith, Sydney Orta, Tess Allen

Boyhood, EUA, 2014, Drama, 165 minutos

Sinopse: O filme conta a história de um casal de pais divorciados (Ethan Hawke e Patricia Arquette) que tenta criar seu filho Mason (Ellar Coltrane). A narrativa percorre a vida do menino durante um período de doze anos, da infância à juventude, e analisa sua relação com os pais conforme ele vai amadurecendo. (Adoro Cinema)

boyhoodmovie

Eventualmente somos tomados na vida por uma sensação de que nada acontece… Até olharmos para trás e perceber que tudo está diferente. Ao contrário do que muitas vezes esperamos de um filme na sala de cinema, por exemplo, a vida não se desenvolve apenas a partir de grandes momentos. É o conjunto de pequenas situações e aprendizados que, em sua maioria, nos faz evoluir. E o diretor Richard Linklater, um grande fã desta lógica, aplica literalmente tal proposta em Boyhood: Da Infância à Juventude, longa que filmou durante 12 anos acompanhando o crescimento de seu protagonista Ellar Coltrane. Se na trilogia Antes… Linklater já baseava a história de seus personagens em momentos do dia a dia e conversas corriqueiras, em Boyhood ele acentua ainda mais essa investida com esse filme extremamente cotidiano que prefere olhar para a beleza dos detalhes que quase passam despercebidos na vida.

Talvez o registro da realidade tão vendido por Boyhood pare mesmo na proposta em si, já que o filme, que supõe ser quase um documentário sobre a história de vida de um garoto desconhecido, escala os famosos Patricia Arquette e Ethan Hawke como os pais – o que, de certa forma, tira o espectador deste senso de registro documental. Mas Boyhood, apesar do que aparenta e repercute, é mesmo uma ficção, onde Linklater se encontrava anualmente com o elenco para gravar novas cenas de um roteiro escrito por ele próprio. Ou seja, não se engane: este não é um reality show sobre a vida do jovem ator Ellar Coltrane. A verdade é que os 12 anos percorridos pelo diretor servem apenas para que, ao vermos o crescimento do protagonista Mason, nos afeiçoemos a ele como os seus próprios pais.

Boyhood, como já mencionado, foi desenvolvido durante 12 anos, mas a equipe só filmou mesmo durante 45 dias ao total. Neste meio tempo, Linklater fez suas adaptações a fatores exteriores, incluindo atender o insistente pedido de sua filha para colocá-la em cena. A escolha se mostrou errada por dois motivos: Lorelei Linklater não é boa atriz e ela ainda se cansou do projeto, pedindo para sair. Este é um exemplo de como deve ter sido difícil para o diretor administrar tantas mudanças de sua equipe ao longo dos anos (especialmente quando ele lida o tempo inteiro com crianças e adolescentes), mas o resultado está certamente bem pontuado na tela. O que existe de mais precioso em Boyhood é como não percebemos o nosso crescente afeto pelo protagonista até o longa chegar, por exemplo, a sua formatura no ensino médio. Neste momento, nos comovemos com sua conquista como se fossemos parte de sua família. Ou seja, a evolução do personagem de Coltrane ultrapassa a curiosidade do natural crescimento físico para também conquistar no emocional – e este é, ao meu ver, um dos grandes méritos de Boyhood.

Já quanto ao filme como um todo, não sou um dos grandes entusiastas. O experimento me comoveu diversas vezes mas algumas fragilidades são perfeitamente notáveis. O primeiro ato envolvendo os primeiros anos da infância de Mason não são lá muito inspirados, em especial a parte que traz um pai violento e autoritário que passa a intimidar todos os personagens em cena. É como se Liklater quisesse fugir do mero relato cotidiano para inserir algum tipo de dramaticidade na história – o que resulta bastante artificial diante de toda a naturalidade que guia a proposta de Boyhood. Se Ethan Hawke surge muito bem nesta parte do filme tirando de letra a representação do pai distante que passa a tentar alguma conexão com os filhos, Patricia Arquette fica meio de escanteio – o que não favorece a atriz (que só vai ter seus melhores momentos lá para o final) nem a trama em si.

É fácil, no entanto, se envolver com a fase adolescente de Mason (Coltrane), principalmente porque é aí que, como todos sabemos, estão algumas das descobertas mais importantes da vida. O amadurecimento da relação com o pai, a saída de casa, a entrada na faculdade e os primeiros casos amorosos pontuam a parte mais fluida de Boyhood, que dá o devido tom reflexivo para que a história se encerre como uma experiência inspiradora. Em 165 minutos nada cansativos, vemos o protagonista crescer sem que necessariamente percebamos suas transformações físicas e emocionais. Quando nos damos conta, do nada, lá está Mason, já de barba no rosto, independente e com uma vida inteira pela frente. Totalmente diferente do que ele era uma hora antes na projeção. E, dadas as proporções de tempo e espaço, tudo não é exatamente assim tão repentino e surpreendente na vida?

6 comentários em “Boyhood: Da Infância à Juventude

  1. Kamila, distribuição péssima mesmo! Aqui em Porto Alegre chegou somente agora, e somente em horários noturnos (o que atrapalha muito, já que “Boyhood” tem quase três horas de duração!).

    Kahlil, gosto muito do Linklater e aqui ele apresenta outro ótimo trabalho.

    Helena, gosto de todos os “Antes…”. Meu favorito talvez seja o último.

    Vinicius, temos impressões bem parecidas quanto ao filme mesmo, com a diferença de que, ao contrário de você, quase não me envolvi com a parte envolvendo a infância do Mason.

    André, tomara que todos saibam disso antes de esperarem uma espécie de mockumentary!

  2. Como tu bem disseste, trata-se de uma documentação fílmica do crescimento de um ser humano. Do berço à graduação colegial. É tudo fake, e Linklater nem faz questão de moldá-lo como um mockumentary. Mas isso nem vem ao caso, pois a intenção não era criar um reality show em cima de Coltrane e sim mostrar o seu amadurecimento físico; bem como a sua evolução como ator, ao longo dos anos.

  3. Quanto ao filme, fico com uma impressão bem parecida. É algo diferente, inspirador. E embora concorde sobre os últimos anos de vida dele quanto a ser a época mais madura e tal, fui mais cativado pelos primeiros anos. Com o passar dos minutos, ele deixa de ser exatamente algo “diferente” e passa a não apresentar nada de muito novo.

  4. Eu vi todos os filmes de “Antes…” e apenas gostei do 1º e do 3º. Filmes cujo os diálogos são os protagonistas é sempre difícil de convencer e agradar a todos. Temos de nos embrenhar nas personagens nós mesmos, vendo além das falas e conhecê-los pelo interior. Ainda não vi “Boyhood”, está na minha lista, principalmente por ser um filme que foi rodado durante tanto tempo. Acho que nunca vi nenhum filme onde esta técnica fosse aplicada e por isso estou curiosa.

  5. Uma pena que a distribuição de “Boyhood” no Brasil foi péssima! Quero tanto assistir a este filme. Parece ser interessantíssimo! Incrível como Richard Linklater é capaz de fazer esse cinema que capta as transformações internas de seus personagens.

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