Direção: Felix Van Groeningen
Roteiro: Felix Van Groeningen e Carl Joos, com a colaboração de Charlotte Vandermeersch, baseado na peça “The Broken Circle Breakdown Featuring the Cover-Ups of Alabama”, de Johan Heldenbergh e Mieke Dobbels
Elenco: Johan Heldenbergh, Veerle Baetens, Nell Cattrysse, Nils De Caster, Robbie Cleiren, Bert Huysentruyt, Jan Bijvoet, Sofie Sente, Ruth Beeckmans, Jan Hammenecker, Blanka Heirman, Kirsten Pieters, Yves Degryse
The Broken Circle Breakdown, Bélgica, 2012, Drama, 111 minutos
Sinopse: Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista. Ele é um músico romântico e ela a realista dona de um estúdio de tatuagem. Apesar das diferenças, o relacionamento dá certo e eles têm uma filha, Maybelle (Nell Cattrysse). Aos seis anos, a menina fica gravemente doente e a família se desestabiliza. (Adoro Cinema)
Certos filmes, por mais cheio de méritos e bem realizados que sejam, são tão tristes que exigem um intenso preparo emocional do espectador. No cinema recente, o exemplar mais contundente neste sentido foi Namorados Para Sempre, uma viagem dolorosíssima – mas extremamente franca -, às estâncias mais turbulentas de um relacionamento amoroso. E se parecia quase impossível que um filme de estrutura semelhante fosse tão avassalador quanto ele pelo menos nos próximos anos, eis que surge esse Alabama Monroe, que segue basicamente a mesma linha de mostrar, com idas e vindas no tempo, a total desestruturação de uma paixão. Só que com uma diferença crucial: aqui, o casal vivido por Johan Heldenbergh e Veerle Baetens tem sua paixão abalada não apenas pelo tempo ou por diferenças que se afloram conforme vão se conhecendo melhor, mas também por uma infelicidade do destino que faz com que sua filha de seis anos passe por inúmeras rodadas de quimioterapia para tratar um câncer recém descoberto.
Indicado ao Oscar 2014 de melhor filme estrangeiro – representando a Bélgica -, Alabama Monroe já anula qualquer possibilidade de bons sentimentos envolvendo a história logo em seus primeiros minutos. Ao anunciar que a filha do casal terá que passar por vários tratamentos médicos agressivos que destruirão sua imunidade, o filme, quando começa a ir e voltar no tempo para mostrar os primeiros momentos do casal e suas alegrias juntos, instantaneamente se torna ainda mais triste. Não adianta: pouco importa se a conexão entre aquelas duas pessoas é natural e comovente, pois já sabemos que o futuro lhes reserva uma dor imensurável. Cada alegria de Alabama Monroe é, portanto, profundamente triste, o que demanda do espectador uma grande força para acompanhar essa viagem constantemente dolorosa. Na equação, adicione ainda um melancólico repertório folk (o casal dedica a vida à música), que é certeiro ao mexer gradativamente com os sentimentos da plateia.
As semelhanças estruturais com Namorados Para Sempre, entretanto, não são qualquer problema para este quarto longa-metragem do diretor Felix van Groeningen. Existe uma grande naturalidade em cada segundo de projeção, especialmente porque a história não se utiliza do câncer da garota para apelações (mesmo com várias sequências da pequena no hospital e sem cabelos). Mas é igualmente interessante o fato de Alabama Monroe ser menos sobre a doença da filha e mais sobre o arco dramático do casal, desde quando se conheceram em função da música até quando passaram a não aguentar mais os obstáculos impostos pela vida – a dois ou não. E tanto Johan Heldenbergh quanto Veerle Baetens são os rostos ideais para protagonizar essa história: ambos “gente como a gente” e nada idealizados. Mais importante ainda, são excelentes atores que transmitem cada dor e tristeza em um mergulho irrepreensível no universo de seus personagens.
Reservando algumas surpresas na forma como organiza os fatos, como a apresentação de acontecimentos mais cedo do que o esperado e outras reviravoltas que são reveladas aos poucos, Alabama Monroe é baseado na peça-musical The Broken Circle Breakdown Featuring the Cover-Ups of Alabama, o que explica o seu tom quase de bastidores e mais intimista nas várias sequências folk. Por sinal, as canções pouco a pouco se tornam cada vez mais melancólicas para a história deles – e quando, em uma apresentação, Didier (Heldenbergh) estende a mão para Elise (Baetens) sem receber a dela de volta, o filme mostra plena compreensão do quanto a música é peça fundamental para suas simbologias – muito mais do que deixa a entender em seus primeiros momentos. Sem falar, claro, do bônus de todas serem inseridas nos momentos mais adequados da trama. Porém, é válido repetir: mesmo que repleto de detalhes admiráveis, Alabama Monroe é um filme impiedoso em sua veracidade – e, acima de tudo, feito para ser assistido com grande preparo, pois seu efeito pode até ser emocionante, mas em um sentido devastador.
Raphaela, os dois me arrebataram. Mas também acho “Alabama Monroe” mais marcante.
Leonardo, exato! É para sair do cinema refletindo sobre tudo. Obrigado! :D
Kamila, assim que puder confira! É uma história bastante difícil, mas também muito forte como cinema.
Perdi a chance de conferir “Alabama Monroe” quando passou na minha cidade e, sinceramente, me arrependo! Só leio excelentes comentários sobre esse filme. Realmente, parece ser uma experiência devastadora.
Uma das melhores experiências cinematográficas que tive neste ano. Triste no ponto de fazê-lo questionar-se sobre tudo.
Excelente review!
engraçado que Namorados para Sempre passou tão desapercebido por mim, quanto Alabama Monroe marcou e virou um dos meus favoritos…