If it was never new, and it never gets old, then it’s a folk song.
Direção: Joel e Ethan Coen
Roteiro: Joel e Ethan Coen
Elenco: Oscar Isaac, Carey Mulligan, Justin Timberlake, John Goodman, Adam Driver, Garrett Hedlund, Alex Karpovsky, Jerry Grayson, Robin Bartlett, Ethan Phillips, Stark Sands, Max Casella, Helen Hong, Bradley Mott
Inside Llewyn Davis, EUA, 2013, Drama, 104 minutos
Sinopse: Llewyn Davis (Oscar Isaac) é um cantor e compositor que sonha em viver da sua música. Com o violão nas costas, ele migra de um lugar para o outro na Nova York dos anos 60, sempre vivendo de favor na casa de amigos e outros artistas. Talentoso, mas sem se preocupar muito com o futuro, ele incomoda a amiga Jean Berkey (Carey Mulligan), que vive uma relação com outro músico, Jim (Justin Timberlake). Nem um pouco confiável, Davis se depara com a oportunidade de viajar na companhia de um consagrado e desagradável artista, Roland (John Goodman), mas nem tudo vai acabar bem nesta nova jornada. (Adoro Cinema)
Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum é outro filme da safra do Oscar 2014 fadado ao fracasso. Principalmente aqui no Brasil, onde sabe-se lá o porquê de terem mantido o título original já complicado (o nome Llewyn Davis por si só tem grafia difícil) e incluído um subtítulo que poderia muito bem ter sintetizado sozinho a ideia deste novo trabalho dos irmãos Coen. Não podemos esquecer ainda que esta é uma produção bastante musical, focada não em qualquer gênero de música, e sim no folk. Se lá nos Estados Unidos o resultado já não foi o que podemos chamar de sucesso ou popularidade (seja por parte do público e até mesmo da crítica), o que esperar de sua repercussão em terras brasileiras? Pouco. Quase nada.
Particularmente, não tinha mesmo boa vontade com Inside Llewyn Davis, que parecia um quase-musical restrito a fãs de música folk. Entretanto, foi bom estar errado: apesar de uma vez ou outra o filme quase cair em uma insistência estética e narrativa indie, os irmãos Coen não deixam o resultado cair nessas ou em outras armadilhas que prejudiquem o conjunto. Inside Llewyn Davis é, na verdade, um filme bastante completo e nada limitado a um determinado público musical.
Existe humor, drama e várias reflexões nesse road movie que utiliza muito bem uma das ferramentas mais interessantes de longas desse gênero: a de apresentar personagens passageiros para moldar a personalidade e as motivações do protagonista. Mas também é fácil ter empatia pelo Llewyn Davis do ótimo Oscar Issac, que é o sujeito que vive de visita em visita e de favor em favor. Não perdemos a paciência com essa sua vida inconstante e que muitos podem julgar “sem perspectiva”. Até porque Llewyn sabe o que quer: o seu talento é a música e ele acredita que só pode viver uma vida plena colocando isso em prática.
Mesmo que lhe falte de dinheiro e confiança de amigos e namoradas, ele segue firme e forte com essa sua vertente. Mas Inside Llewyn Davis não é uma história de ascensão profissional ou de redenção humana. Também não é um longa sobre turnês, negócios e gravadoras – e quando elas aparecem são mais para falar sobre o personagem do que sobre qualquer outra coisa. O que os Coen querem é fazer um estudo de personagem, de alguém que quer firmar suas paixões, vontades e vocações. Tudo com muita discrição.
Fora o excelente visual (vale destacar mais uma excelente fotografia do francês Bruno Delbonell), o que existe de mais interessante em Inside Llewyn Davis é como o roteiro sempre se devia dos caminhos fáceis e clichês. Um aborto não é motivo para intrigas e choros infinitos, uma descoberta pessoal do protagonista não dá origens a outras jornadas que dispersam o estudo de personagem proposto e as questões familiares não caem em melodramas. É uma história de sutilezas e que não aposta em extremos, com o maior exemplo sendo a personagem de Carey Mulligan, que tinha tudo para ser a eterna estressada irritante e unidimensional. Só que o texto dá todas as devidas explicações quando constrói a personagem, e Mulligan aproveita a chance: ela tem aqui aquele que é, possivelmente, o seu momentos mais diferenciado desde Educação.
Além dela, várias pequenas participações também são funcionais – em especial a de John Goodman -, e trazem momentos inspirados (Justin Timberlake tem um ótimo momento com a canção Please, Mr. Kennedy). Certamente, Inside Llewyn Davis é uma experiência menor e mais pessoal dos irmãos Coen, encabeçada por um ótimo ator e embalada por boas canções. Por fim, e mais importante, desmonta toda e qualquer expectativa negativa envolvendo tédio ou restrições. Quem o define como uma produção específica claramente não percebeu todas as camadas do longa.
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Kamila, o filme surpreende – e isso é mais do que eu esperava dele…
Ainda não assisti a esse filme, apesar de ter muita curiosidade. Parece ser um retrato interessante de um período bastante efervescente do ponto de vista cultural. Além disso, tem o ótimo elenco.