I’m sorry. I know that means little at this point, but I am.
Direção: J.C. Chandor
Roteiro: J.C. Chandor
Elenco: Robert Redford
All is Lost, EUA, 2013, Drama, 106 minutos
Sinopse: Um navegador experiente (Robert Redford) está viajando pelo Oceano Pacífico, quando uma colisão com um container leva à destruição parcial do veleiro. Ele consegue remendar o casco, mas terá a difícil tarefa de resistir às tormentas e aos tubarões para sobreviver, além de contar apenas com mapas e com as correntes marítimas para chegar ao seu destino.
O momento não poderia ser mais propício para Até o Fim chegar aos cinemas. Afinal, o tema sobrevivência tem pautado importantes filmes dos últimos meses, como o vencedor do Oscar 2014, 12 Anos de Escravidão, e o cultuado Gravidade. Não é diferente com Até o Fim, que é basicamente o filme estrelado por Sandra Bullock em alto-mar. Dadas as proporções, são produções igualmente excepcionais que narram a solitária jornada de personagens em situações de puro confronto com a finitude da vida e com a imensidão de um universo forte e impiedoso. Entretanto, Até o Fim está fadado ao fracasso. Com admiráveis aspectos técnicos e narrativos menos perceptíveis ao grande público, o filme de J.C. Chandor afasta plateias por um motivo específico: são quase duas horas com um único personagem em cena e que quase não fala. Um filme, enfim, que ninguém cria expectativa para ver. E a recepção reflete essa má vontade: custou oito milhões e, desde sua estreia em outubro nos Estados Unidos, só conseguiu arrecadar mundialmente pouco mais de seis. Nas premiações também foi solenemente ignorado, conseguindo no máximo uma vitória na categoria de trilha sonora do Globo de Ouro e uma indicação de som ao Oscar. Rejeição merecida? De forma alguma. Bastante injusta, na verdade. Pelas mais diversas razões.
Logo no início, J.C. Chandor já resume muito bem o seu filme. Abrindo Até o Fim com uma carta de despedida do protagonista vivido por Robert Redford, Chandor coloca, nessa carta, uma série de pedidos de desculpas que não serão esmiuçados ao longo da história. Nós sabemos que esse homem, agora sozinho em alto-mar, errou muito na vida e que somente há pouco conseguiu admitir tais erros, mas nunca nos é revelado o que de fato ele fez. E nem precisa: o longa passa uma solidão muito grande e o rosto lindamente envelhecido de Robert Redford se encarrega de trazer todo o pesar de uma vida complicada que agora ficou para trás. Não é necessário saber o que exatamente ele fez de errado. O que importa é o que ele fará – ou não – agora que se encontra em uma situação complicadíssima e praticamente de frente com o fim da vida. Em síntese, Até o Fim é sobre sobreviver, mas é bom ficar atento a vários detalhes que denotam uma complexidade que pode passar despercebida. Um exemplo é como Chandor usa a solidão imposta pela circunstância do personagem para fazer uma metáfora da solidão real dele. A força da natureza e os obstáculos enfrentados são uma espécie de penitência pelos erros passados – e o protagonista tem quase uma paz interior com tudo aquilo, como que se aceitasse o fato de que precisa passar por essa situação para limpar a alma.
Era difícil imaginar que Chandor, responsável pelo complexo Margin Call – O Dia Antes do Fim (que, ironicamente, era inteiramente apoiado em diálogos), fosse fazer algo tão surpreendente como Até o Fim. E é magnífica sua habilidade de segurar o filme com um só ator e sem diálogos, mantendo sempre uma constante agonia. Nós compartilhamos da angústia do protagonista sem nome: estamos temerosos no bote, no barco, no mar – e queremos ajudá-lo. Além da direção de Chandor, a inteligente fotografia (subaquática ou não), o estupendo trabalho de som e a certeira trilha sonora de Alexander Ebert ajudam o filme a alcançar toda esse sentimento com muita plausibilidade e com situações nada apelativas. Mesmo o final, que parece tão simples e fácil, pode não ser tão simples assim e apresentar uma outra simbologia, especialmente quando você descobre que a faixa da trilha que encerra o filme se chama “Amém”. Se, dois anos atrás, As Aventuras de Pi ficou longe de me comover, aqui Chandor conseguiu fazer muito mais com literalmente pouquíssimas palavras. Um filme difícil, mas real, belo e muito mais profundo do que parece. Uma aula de direção que não merecia esse fracasso que amarga.
Xeolhades, exatamente! Uma experiência surpreendente para quem se propõe.
Kamila, toda a repercussão do filme está horrível, o que é uma pena =/
Excelente crítica, Matheus! Estou ansiosa para conferir este filme. Porém, acho que a distribuição que ele terá no Brasil será horrível! :(
Ótima resenha. Um filme realmente complicado para o grande público, mas sensacional para quem gosta de pular de ponta em uma trama angustiante e real.