Quando recebi as escolhas e, principalmente, a foto de perfil do Luciano Lima para essa seção, me perguntei “Como eu ainda não tinha convidado esse cara antes”? Fiz a pergunta não só porque compartilho uma afinidade muito grande com ele (de humor, de filmes), mas porque já somos amigos de longa data. Isso mesmo, amigos. O Luciano é um sujeito que a internet coloca no nosso caminho e que ultrapassa o mero universo dos pixels. Durante um bom tempo, ele escreveu sobre cinema no agora finado A Sala, mas, mesmo não se dedicando mais a escrita sobre o tema, continua um grande cinéfilo. E posso tranquilamente dizer que as escolhas dele são, até agora, as minhas favoritas entre as que já passaram por esta seção. Pelo menos uma das interpretações mencionadas eu certamente colocaria em uma seleção pessoal. Fiquem, então, com essa excelente lista que, além de tudo, é muito bem justificada!
Laura Linney (A Família Savage)
Laura Linney é daquelas que faz atuar parecer um passeio no parque em dia de domingo. Antes de sofrer junto com Cathy em The Big C – o melhor de seu trabalho até agora foi mesmo na televisão – Linney foi irmã de Philip Seymour Hoffman num drama independente que surgiu quando o estilo de filme centrado em problemas familiares e músicas de bandas desconhecidas estava no auge. Mas A Família Savage tem um pouco mais a oferecer. Munido de um texto muito bem escrito e de atuações cheias de sensibilidade e carisma, a história trata de dois irmãos que se reencontram para definir o que fazer quando o pai (Philip Bosco), agressivo e relapso, já não consegue ser independente. É na busca por conforto para os últimos momentos da vida de Lenny que percebemos o presente e o passado de cada um e como esse encontro serviu para aflorar sentimentos que foram sufocados para o bem comum.
Colin Firth (Direito de Amar)
Tom Ford e David Scearce deram a Colin Firth o maior presente que um ator pode ganhar: um papel praticamente solo, com um personagem denso e repleto de possibilidades. E George é um poço de possibilidades quando se trata de sentimentos e como expressar isso, como viver sob algo tão forte e perturbador como a perda de alguém amado. É até engraçado que o George original, da obra escrita por Christopher Isherwood, não consiga ser metade do que é esta união entre Ford, Scearce e Firth. Enquanto o roteiro trata de representar de maneira intensa o sofrimento de um homem que perdeu o grande amor de sua vida e que, quase um ano depois, ainda não encontrou motivo para continuar, a beleza gráfica que Ford alcança é marcante e cheia de vida própria, capaz inclusive de representar percepções do próprio protagonista em determinados momentos da trama. Não bastasse toda esta precisão técnica (vou apenas dizer que a trilha sonora de Abel Korzeniowski até hoje me arrepia), a inspiração de Firth é de encher os olhos. O ator nos faz sentir cada momento, compartilhar cada pensamento e aproveita todas as possibilidades, protagonizando o que foi o melhor momento no cinema aquele ano – quando George faz uma visita a Charley (Julianne Moore). Do acordar e a noção dolorosa de que a cama está vazia a um desfecho libertador e cheio de ironia, Firth foi muito além do que qualquer trabalho que tenha desempenhado até hoje.
Hugh Jackman (O Grande Truque)
O estigma quase mata a carreira de um ator cuja versatilidade foi sua maior arma. Jackman, que quase seguiu o rumo dos romances sem nenhuma significância, começou a reagir quando provou na Broadway que era capaz de fazer as pessoas esquecerem completamente a associação entre seu nome e o de Wolverine, mas foi em O Grande Truque – meu preferido do Nolan – que a sutileza encontrou lugar na competência de Jackman. Baseado no ótimo livro de Christopher Priest, o filme conta a história de dois ilusionistas que se deixam levar a extremos em prol de uma rivalidade doentia e perigosa. O roteiro dos irmãos Nolan é de uma sagacidade ímpar, resultando num final chocante e cheio de uma pretensão completamente justificável. Até hoje tenho na memória a reação de Jackman quando seu personagem percebe ter sido enganado ao ler um diário (numa de várias reviravoltas do filme).
Maravilha tanto ver meu texto aqui, quanto ter lido essa apresentação do Matt, um amigo que meu antigo blog me trouxe e que vou levar pra vida toda. Obrigado Kamila (de quem tenho saudade dos comentários n’A Sala) e a Gabrielle, que me fez ficar vermelho aqui. hahaha
Obrigado mesmo.
Kamila, adorei as escolhas e as justificativas do Luciano também!
Gabrielle, uma das minhas participações favoritas!
“Três atores, três filmes” mais bem escrito da série (na minha humilde opinião).
Além de pontos de vista fantásticos.
Parabéns!
Muito boas as escolhas do Luciano e as justificativas apresentadas.