A coincidência é pra lá de curiosa: O Quarteto e Song for Marion não podem ter se copiado, já que foram exibidos pela primeira vez praticamente na mesma época e produzidos quase que simultaneamente. Mas suas essências são idênticas: os dois longas falam sobre idosos que encontram na música um novo sentido para viver, especialmente em uma fase onde as lembranças são mais importantes que os sonhos. E ambos prezam por leveza, simplicidade e, acima de tudo, sensibilidade. Em Song for Marion, de Paul Andrew Williams, porém, a história chega a ser ainda mais comovente, visto que a música é o alento na vida de uma senhora aposentada e… com câncer, interpretada pela grande Vanessa Redgrave. Poucos minutos são suficientes, no entanto, para percebermos que esse não é um filme sobre ela, e sim sobre seu rabugento marido, vivido por Terence Stamp, que deseja preservar a esposa a todo custo e é contra sua participação no tal coral.
Soube da existência desse filme por meio do crítico Rubens Ewald Filho, que, quando participou da seção Três atores, três filmes, aqui do blog, foi só elogios para a dupla protagonista e também para o filme em si. Com isso, minhas expectativas não eram poucas, e confesso que, como o próprio Rubens admitiu, deve ter tido sim alguma emoção extra por parte dele em função da idade para justificar tanta comoção. Isso porque Song for Marion – ainda sem título no Brasil e, segundo o IMDb, previsto para ser lançado diretamente em homevideo no mês de novembro – é completamente convencional e previsível – até mesmo para padrões mais corriqueiros de filmes com essa temática.
Com pouco tempo de história, já é possível adivinhar todas as etapas do arco dramático. Não é preciso ser nenhum gênio para deduzir que a degradação da esposa em função do câncer vai tocar o personagem de Stamp de maneira com que ele aceite e até mesmo se engaje no mundo musical. Contudo, não é só o roteiro – escrito pelo próprio diretor – que não faz questão de esconder um certo comodismo ao desenvolver a trama. O próprio conjunto não é lá muito inspirado, uma vez que, por exemplo, a trilha faz questão de sublinhar a comédia e o drama e os detalhes ressaltados pela câmera entregam tudo o que está por vir.
Mas, então, o que faz Song for Marion valer a pena? Ora, não tenham dúvidas: a dupla Vanessa Redgrave e Terence Stamp. Ela tem uma participação menor (até porque o filme é sobre ele), mas seu papel, apesar da obviedade do filme, é tratado com sobriedade e sem apelações. E Redgrave só acentua isso: é uma das atrizes mais humanas ainda em atividade, e seu poder de expressões e palavras está todo aqui. Mas o espetáculo é mesmo de Stamp. Quase minado pelo papel previsível, o ator supera esse obstáculo com a lógica de que menos é mais. Humano como Redgrave, mas com chances diferenciadas (quando solta a voz, chega a surpreender). A dupla não chega a engrandecer o filme, mas nos lembra, mais uma vez, com todo o respeito, que os velhos serão sempre os melhores!
FILME: 6.5