Afastada do cinema desde 2005, quando dirigiu e roteirizou Celeste & Estrela, Betse de Paula agora volta à ativa com dois longas-metragens. O primeiro é Vendo ou Alugo, exibido recentemente nos cinemas e vencedor de 12 prêmios no Cine PE. Já o segundo (e inédito) não tem feito muito barulho ao integrar a mostra competitiva do 41º Festival de Cinema de Gramado e ao ser anunciado como o filme de abertura do 46º Festival de Brasília. É Revelando Sebastião Salgado, documentário que, como o próprio título indica, procura mostrar todas as facetas daquele que é, possivelmente, o fotógrafo brasileiro mais conceituado mundo afora. Ele mora em Paris há décadas e ganhou notoriedade quando registrou o atentado contra o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, em 1981. Entretanto, por mais que Revelando Sebastião Salgado descortine a vida de um profissional brasileiro singular, não são todos que se entusiasmam pela ideia do longa.
Dá para entender o porquê desse certo descaso. Primeiro: é um documentário, gênero que, mesmo sendo o maior talento do cinema brasileiro, ainda não é devidamente valorizado. E segundo porque realmente é um filme menor, quase caseiro, como se fosse um trabalho de férias da diretora. E foi mesmo: na coletiva de imprensa do filme no 41º Festival de Cinema de Gramado, a própria Betse de Paula admitiu que sempre quis fazer um filme sobre Sebastião (que é um amigo de sua família), mas que suas agendas nunca coincidiam, até a época em que ele teve três dias livres e topou tirar o projeto do papel. Betse fez as malas, viajou a Paris e passou esse curto espaço de tempo extraindo tudo o que podia dele. Por isso, para poupar tempo, gravou tudo na casa de Sebastião, sem qualquer tomada externa, também obedecendo às exigências do próprio fotógrafo, que é cheio de manias e tem pavor de trabalhar em equipe.
Toda essa adaptação à disponibilidade do personagem passa uma certa sensação de claustrofobia, pois o filme é praticamente todo ambientado no mesmo local, com uma única fonte (o filho do fotógrafo fala duas ou três vezes, mas é pouquíssimo se analisado frente ao conjunto), e muitas fotos são usadas para cobrir os depoimentos de Sebastião. Betse tenta trazer dinâmica para a narrativa com infográficos e outras inventividades visuais, mas as alternativas não ajudam muito o ritmo do filme, que termina um tanto cansativo e quase redundante nos minutos finais dos 75 totais. Só que Revelando Sebastião Salgado tem uma grande figura em mãos e, como sabemos, uma boa fonte já é meio caminho andado em um documentário.
Conhecer as visões desse fotógrafo brasileiro que ganhou o mundo por méritos próprios é no mínimo inspirador. Ele largou uma especialização em economia porque se descobriu apaixonado por fotografia, fez a foto certa na hora certa e pouco a pouco foi construindo seu nome mundialmente. Venceu, enfim. E vitórias são sempre inspiradoras. Mais do que uma trajetória contada passo a passo, Revelando Sebastião Salgado explora o próprio processo de criação de seu personagem, desenvolvendo o fato de ele só fotografar em preto-e-branco, o envolvimento com os fotografados, a rotina de trabalho na Europa, etc. Com isso, saímos da sessão amando fotografia e valorizando em maior grau o trabalho desses profissionais que ainda precisam reivindicar seus créditos em fotografias publicadas aleatoriamente na internet. Portanto, como entrevista, o novo filme de Betse de Paula é um achado. Já como cinema, está mais para um especial feito para a TV.
FILME: 7.5