Segredos de Sangue

Personally speaking, I can’t wait to watch life tear you apart.

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Direção: Park Chan-Wook

Roteiro: Wentworth Miller, com a colaboração de Erin Cressida Wilson

Elenco: Mia Wasikowska, Matthew Goode, Nicole Kidman, Jacki Weaver, Dermot Mulroney, Phyllis Somerville, Harmony Korine, Lucas Till, Alden Ehrenreich, Tyler von Tagen, Thomas A. Covert, Lauren E. Roman, Peg Allen

Stoker, EUA/Inglaterra, Suspense, 99 minutos

Sinopse: Em pleno luto por causa da morte de seu pai, India (Mia Wasikowska) deve lidar com o novo comportamento agressivo de sua mãe (Nicole Kidman) e com a chegada inesperada de um tio que ela nem sabia que existia, Charlie (Matthew Goode). Este homem sombrio esconde as reais motivações de sua visita, enquanto seduz as duas mulheres da família. (Adoro Cinema)

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Segredos de Sangue sempre foi, para o escriba que vos fala, um dos filmes mais aguardados de 2013. Muito em função, claro, dos trailers, que traziam uma Nicole Kidman hipnotizante (e com uma frase já inesquecível: “pessoalmente, mal posso esperar para ver a vida te destruir”, em tradução literal), uma estética completamente instigante e um clima de suspense que prometia trazer o coreano Park Chan-Wook para o cinema estadunidense em grande estilo. Entretanto, a expectativa é a mãe da decepção e, infelizmente, Segredos de Sangue está longe de ser o filme que poderia ser, desapontando em vários sentidos e, principalmente, desperdiçando a oportunidade de realizar um thriller cheio de inspiração com nomes de respeito.

Desde os créditos iniciais é possível perceber que o debut de Park Chan-Wook nos Estados Unidos será cheio de estilo. Só que a má notícia é que, se os enquadramentos diferenciados e as rimas visuais conquistam em um primeiro momento, logo tudo se torna um pouco distante da história, fazendo com que ela seja sufocada pela vontade do diretor de fazer de Segredos de Sangue uma experiência mais visual. Por isso, diálogos perfeitamente corriqueiros são quase atrapalhados por uma câmera inquieta (percebam como Park volta e meia faz movimentos desnecessários durante as conversas) e cenas mais intensas não surtem o devido efeito em função de cores ou closes que desviam a atenção do espectador.

Quem sai perdendo? O roteiro de Wentworth Miller (para quem não lembra, ele foi o protagonista do extinto seriado Prison Break), que, infelizmente, tem interessantes análises diluídas por esse filme mais preocupado em instigar com outros artifícios. Texto e direção simplesmente não combinam, especialmente porque a proposta de Segredos de Sangue merecia um viés mais dramático e psicológico e não de uma tensão que raramente casa com um ritmo pausado. O suspense está ali, mas não conseguimos necessariamente senti-lo, e isso é um problema. Vale lembrar ainda que a chave de todo o conflito pouco contribui: o personagem de Matthew Goode não é necessariamente instigante, especialmente porque o tipo robótico interpretado por ele cai no lugar-comum. Isso é até um pouco imperdoável, pois a proposta da trama é, justamente, mostrar como a protagonista tem sua vida alterada pela presença da figura vivida por Goode. Nesse sentido, a ótima trilha de Clint Mansell se sai muito melhor ao criar tensão e nervosismo nessa dinâmica entre os dois.

Park Chan-Wook tem uma marca muito forte como diretor, mas o enredo de Segredos de Sangue precisava de outro realizador. É particularmente frustrante como alguns arcos não são tão interessantes quanto deveriam ser. A quebra de inocência da protagonista vivida por Mia Wasikowska tem seus momentos de inspiração (a cena no chuveiro é executada de forma surpreendente), mas, no geral, é executada de forma quase inverossímil e abrupta. O retrato familiar também é superficial, uma vez que os conflitos com a mãe se resumem a implicâncias pouco esmiuçadas. E, por isso mesmo, quando Nicole Kidman diz a tal frase que mal espera para ver a vida destruir a filha, é possível ficar um pouco confuso com o repentino ódio da personagem. Afinal, de onde vem isso tudo? E por que o filme não se aproveita de outras cenas como aquela em que a protagonista penteia o cabelo da mãe frente ao espelho, num raro momento de complexidade entre as duas? Essa dinâmica traria mais intensidade ao conjunto e preencheria muitas das lacunas dramáticas e também de suspense do filme.

Em termos de elenco, Segredos de Sangue também tem suas decepções. O destaque, sem dúvida, é Nicole Kidman, que parece estar consolidando uma boa fase novamente. O espaço em cena é limitado (ela merecia chances ainda maiores), mas sua presença é marcante, seja pela beleza impressionante (como se isso fosse novidade) ou pela expressividade em momentos-chave. Já Mia Wasikowska segura o filme, mas frequentemente confunde o gênio difícil de sua personagem com o tipo enjoado que já trabalhou em outras produções. De resto, Segredos de Sangue subutiliza nomes como Jacki Weaver, Phyllis Somerville e Dermot Mulroney em aparições que não chegam a se destacar. Por fim, é óbvio que Segredos de Sangue tem ótimos atributos, mas é o típico caso em que a decepção fala mais alto. Park Chan-Wook e Wentworth Miller acertam individualmente, mas não deveriam ter trabalhado juntos. Faltou química entre roteiro e direção, deixando a forte impressão de que Segredos de Sangue seria um instigante estudo dramático e psicológico nas mãos de outra dupla.

FILME: 6.0

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4 comentários em “Segredos de Sangue

  1. Kamila, eu tinha altas expectativas com esse filme e deveria ter sido avisado pela morna recepção do filme lá fora que ele não era grande coisa. Me decepcionei bastante…

    Mark, eu acho que o roteiro até é bom, mas não combina com a direção. Parece que ambos querem coisas diferentes!

    Reinaldo, como comentei no texto, acho que o roteiro do Wentworth Miller e a direção do Park Chan-Wook teriam gerado dois filmes muito mais interessantes caso trabalhassem separados!

  2. Gostei da sua crítica. Vc lançou um olhar sobre a incompatibilidade do roteiro e da direção que não tinha me atentado; talvez pq não veja nada demais no roteiro de Miller. Mas concordo que a direção desvia a atenção. Na minha perspectiva, isso foi algo parcialmente positivo.
    Abs

  3. Cada vez que eu leio algo novo sobre “Segredos de Sangue”, mais eu fico surpreendida. Primeiro, por causa da presença da Nicole Kidman no elenco. Agora, por saber que Wentworth Miller é o autor desse roteiro! Nossa! Devo conferir só por causa desses detalhes mesmo, porque o filme em si parece ser bem mediano.

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