Não é a unanimidade do ano. Muito menos o filme mais acessível de 2013. Só que Precisamos Falar Sobre o Kevin foi o filme que mais me impactou no ano que passou. Nem mesmo o fator que muitos consideram o grande problema (Kevin como um personagem unidimensional) sabotou a minha experiência com o longa de Lynne Ramsay. Adaptando a obra homônima de Lionel Shriver com várias (justificáveis) liberdades, Precisamos Falar Sobre o Kevin acerta ao utilizar um tom muito subjetivo para narrar a vida interrompida da protagonista Eva Katchadourian, cujo sofrimento é muito bem transmitido não só pelo texto e pela direção (atenção para as várias rimas visuais apresentadas por Ramsay) mas, principalmente, pelo extraordinário desempenho de Tilda Swinton. Denso, Precisamos Falar Sobre o Kevin deixa muitos pontos abertos para discussão e interpretação, o que só torna a experiência ainda mais interessante. Como drama – o gênero favorito desse escriba que vos fala – o filme de Lynne Ramsay consegue colocar o espectador a par de todas as angústias de sua protagonista. Sem concessões. E, por isso mesmo, único.
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2. Guerreiro
Uma das grandes surpresas de 2012, Guerreiro não recebeu a devida atenção. Além do ótimo elenco masculino, o filme de Gavin O’Connor é exemplar na hora de transformar histórias essencialmente simples em uma verdadeira viagem sensorial. Das eletrizantes lutas de MMA aos confrontos familiares devidamente pontuados nas emoções, o filme envolve todos os públicos e nunca se restringe a um perfil específico.
3. A Separação
Qualquer preconceito com o cinema iraniano é imediatamente desfeito após A Separação. Asghar Farhadi apresenta uma verdadeira aula de roteiro em um filme muito bem atuado. De pequenos dramas universais a dilemas angustiantes (quem não ficou tenso durante todos os confrontos dos personagens?), o filme surpreende pela firmeza com que conduz todos os seus elementos, do texto ao elenco. Merecidamente, venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro.
4. 007 – Operação Skyfall
Dos filmes da série James Bond que vimos recentemente, 007 – Operação Skyfall é, certamente, o mais completo. Além da elegante direção de Sam Mendes, o filme estrelado por Daniel Craig é contemporâneo, tem um notável elenco de suporte e ainda consegue homenagear elementos que fizeram o personagem se tornar um verdadeiro ícone do cinema. Resta saber se o alto nível será mantido daqui para frente agora que foi anunciada a saída de Sam Mendes da franquia.
5. Argo
É o auge da carreira de Ben Affleck, que já vinha mostrando uma boa evolução, e não dá para negar seus méritos. Realizado com uma simplicidade que nunca descamba para o superficial, Argo sabe muito bem balancear os complicados detalhes de uma trama política com uma linguagem super acessível. Tem um ou outro excesso (no desfecho, principalmente), mas não é nada que tire a grande eficiência alcançada por Affleck. Fique de olho no elenco, repleto de nomes consagrados da TV.
6. O Impossível
Foi uma das melhores surpresas do ano por reverter qualquer expectativa em torno de excessos e melodramas. O Impossível poderia ser insuportável de tão forçado, mas o resultado segue um caminho completamente oposto: no filme de Juan Antonio Bayona, toda e qualquer decisão tomada para emocionar o espectador funciona. Humano e muito bem realizado (destaque para trilha e direção de arte), ainda entrega um belo trabalho de elenco.
7. Holy Motors
Inventivo em todo o seu DNA, Holy Motors foi a experiência cinematográfica mais difícil de 2013. Nem todos conseguem embarcar no alucinante mundo criado por Leos Carax – o que é totalmente compreensível. Porém, os que entram são brindados com uma diversidade infinita de interpretações. Analisado de forma mais prática, Holy Motors tem um desempenho fantástico de Denis Lavant, um eficiente trabalho de maquiagem e uma direção pra lá de autoral.
8. Weekend
Retrato intimista e muito delicado da breve relação de dois jovens que se conhecem em uma festa, Weekend nunca se restringe ao mundo homossexual. O filme de Andrew Haigh quer, antes de mais nada, falar sobre as dúvidas e expectativas de qualquer ser humano envolvido em um relacionamento – o que só valoriza ainda mais os vários méritos dessa pequena produção britânica que merece ser descoberta por sua sinceridade e simplicidade.
9. Moonrise Kingdom
Auge de Wes Anderson como realizador, Moonrise Kingdom consegue trazer todos os maneirismos do diretor sem que o filme se torne insuportável ou bastante questionável como em investidas anteriores dele (destaque para o incompreensível A Vida Marinha). Aqui, toda a técnica, o elenco em plena sintonia e a direção muito inventiva de Anderson caminham juntos em um resultado bem divertido e também nostálgico. Recomendável para todos os públicos.
10. Heleno
Jogadores de futebol raramente têm bom resultado no cinema brasileiro (Garrincha e Pelé amargaram filmes terríveis), mas esse Heleno é um verdadeiro achado. Contando os altos e baixos da vida pessoal e profissional de Heleno de Freitas, jogador do Botafogo, o filme é esteticamente irrepreensível (atenção para a belíssima fotografia) e traz mais um grande desempenho de Rodrigo Santoro (que colocou dinheiro do próprio bolso na produção).
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ESCOLHA DO PÚBLICO:
1. Precisamos Falar Sobre o Kevin (27.27%, 12 votos)
2. A Separação (20.45%, 9 votos)
3. 007 – Operação Skyfall (11.36%, 5 votos)
4. Guerreiro (9.09%, 4 votos)
5. Argo (9.09%, 4 votos)
6. O Impossível (6.82%, 3 votos)
7. Holy Motors (6.82%, 3 votos)
8. Weekend (6.82%, 3 votos)
9. Moonrise Kingdom (2.27%, 1 voto)
10. Heleno (0%, 0 votos)
Lígia, levo em consideração a data de estreia no Brasil. Então, “Amor” ficou para os melhores de 2013.
Kamila, como você bem sabe, também AMO “Guerreiro”.
Clóvis, pois então assista a esses três filmes. São todos ótimos!
Da sua lista, não assisti a “Holy Motors”, “Weekend” e “Heleno”, mas gosto muito de todos os outros filmes mencionados. Votei naquele que é o meu segundo filme favorito do ano: “A Separação”.
Do seu top 10, não assisti a “Holy Motors”, “Heleno” e “Weekend”. E, apesar de adorar “Precisamos Falar Sobre o Kevin”, meu voto foi para “Guerreiro”, meu filme favorito visto em 2012.
amor, toda vida.