Anna Karenina

Anna isn’t a criminal, but she broke the rules.

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Direção: Joe Wright

Roteiro: Tom Stoppard, baseado no romance homônimo de Leo Tolstoy

Elenco: Keira Knightley, Aaron Taylor-Johnson, Jude Law, Kelly Macdonald, Matthew Macfayden, Michelle Dockery, Marinne Batier, Olivia Williams, Emily Watson, Ruth Wilson, David Wilmot, Henry Lloyd-Hughes, Pip Torrens

Inglaterra, 2012, Drama, 129 minutos

Sinopse: Século XIX. Anna Karenina (Keira Knightley) é casada com Alexei Karenin (Jude Law), um rico funcionário do governo. Ao viajar para consolar a cunhada, que vive uma crise no casamento devido à infidelidade do marido, ela conhece o conde Vronsky (Aaron Johnson), que passa a cortejá-la. Apesar da atração que sente, Anna o repele e decide voltar para sua cidade. Entretanto, Vronsky a encontra na estação do trem, onde confessa seu amor. Anna resolve se separar de Karenin, só que o marido se recusa a lhe conceder o divórcio e ainda a impede de ver o filho deles. (Adoro Cinema)

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Com apenas cinco longa-metragens no currículo, o britânico Joe Wright já consolidou um estilo muito claro. Por mais que, de vez em quando, insista em comandar histórias contemporâneas, o seu forte mesmo é o universo das produções de época. Filmes como O SolistaHanna murcham frente a  toda elegância e sentimento que podemos ver em Orgulho e Preconceito e, principalmente, Desejo e Reparação. Seu mais recente trabalho, Anna Karenina, não está à altura do que já realizou de mais precioso, mas consegue, pelo menos, reafirmar todo o estilo e firmeza de Wright para filmes de época. Na terceira parceria com Keira Knightley como musa, o diretor nunca esteve tão seguro de seus talentos como realizador de obras do gênero, apresentando uma estética cada vez mais minuciosa e uma linguagem técnica que chega ao nível do incomparável. A obra, porém, em termos de dramaturgia, não engrena – o que, infelizmente, tira as chances de Anna Karenina se tornar uma experiência transcendente.

Todo o apuro visual visto nessa mais recente adaptação do clássico romance homônimo de Leo Tolstoy também é resultado de grandes parcerias que Joe Wirght veio firmando nos últimos anos. Aqui, repete-se o trabalho de trilha com o italiano Dario Marianelli, a elaboração de figurinos com Jaqueline Durran (vencedora do Oscar 2013 pelo que realizou aqui) e a concepção de fotografia com Seamus McGarvey. É o auge do requinte em toda a filmografia do britânico, principalmente porque, em Anna Karenina, tais elementos estão a serviço de uma proposta muito mais ousada: das liberdades narrativas proporcionadas por encenações em ambientes teatrais a todas as escolhas pensadas exclusivamente para trazer um ar mais do que clássico para o filme, a técnica se consolida junto a um impressionante trabalho de cenografia. Mais ainda: tudo o que existe de teatral em Anna Karenina funciona também cinematograficamente porque só tem a acrescentar ao clima proposto e ao que está sendo contado (vale destacar a belíssima cena do baile, o ponto alto do filme). É uma opção de estilo perigosa, mas que Wright soube conduzir com grande precisão.

Conforme Anna Karenina se desenvolve, é possível pensar que toda essa meticulosa e inigualável técnica está caminhando lado a lado com uma história igualmente interessante. Não existe nada de muito novo na história da mulher que, contra todos as “regras” da época que vive, resolve trair o marido com um garoto mais jovem. Mas o objetivo do roteiro de Tom Stoppard não é surpreender e sim recontar a história  de um jeito tradicional. E se, durante um bom tempo, o texto conversa diretamente com a linguagem estética de Joe Wright, envolvendo o espectador na atração proibida de Anna (Keira Knightley) por Vronsky (Aaron Taylor-Johnson), logo tudo vira um chororô enjoado quando se encaminha para a segunda parte já conhecida da história: aquela em que a protagonista resolve se entregar à paixão. Aí, a indefectível técnica fica apenas com a missão de dar um toque especial a uma história que, mal conduzida, vira praticamente uma novela repetitiva, suscetível a poucas análises e compaixões do espectador. O roteiro de Stoppard divide Anna Karenina: de um lado, um filme promissor em todos os sentidos; de outro, uma experiência frustrante por não manter um diálogo harmônico entre todos os aspectos

O deslumbre – que nunca sufoca o filme – merecia uma conclusão melhor e, principalmente, um elenco mais apropriado. Não podemos dizer que os atores de Anna Karenina estão em um mau momento, mas eles simplesmente não dão a devida força para seus personagens – o que se torna ainda mais evidente na segunda parte da história, onde o enredo exige muito mais deles. Keira Knightley sustenta vestidos de época como ninguém, mas repete papel, dificilmente convence por completo e não dá a dimensão ideal para uma personagem que poderia se tornar clássica nas mãos de uma atriz mais competente. Jude Law, que só murchou nos últimos anos, surge novamente inexpressivo como o marido traído da protagonista, nunca o construindo como uma figura forte ou frágil, amedrontadora ou alentadora. Completando o triângulo amoroso, vem o jovem Aaron Taylor-Johnson, o menor dos problemas, mas também igualmente indiferente. Entre os coadjuvantes que surgem apenas para dar o ar da graça, encontramos: Emily Watson, precisando de um papel digno há horas, e Michelle Dockery, a iluminada lady Mary Crawley do seriado Downton Abbey. Ou seja, Anna Karenina não é um filme de elenco.

Retomando a conversa sobre Joe Wright, acredito que seja importante analisar Anna Karenina de uma maneira bastante específica: existe o diretor e o resto. Se em Desejo e Reparação praticamente tudo se ligava em uma história que tinha visual arrebatador e um coração grandioso, aqui o resultado é muito mais racional. A refilmagem flerta com a frieza – e só não assume tal característica de vez porque todo o estilo cria uma atmosfera de encantamento que é difícil ficar indiferente. O que acontece é que toda essa visceralidade magnificamente apresentada em elementos como trilha (outro trabalho grandioso de Marianelli!), fotografia, figurino e direção de arte nunca se repercute no texto de Tom Stoppard. A direção orquestra tudo com precisão, mas a “música” do roteiro não é lá tão interessante. Portanto, o que fica mesmo desse elegante Anna Karenina é a prova de que Joe Wright é um cara que sabe o que faz e que sempre merece toda a atenção do mundo para o seu desempenho atrás das câmeras. Vendo dessa forma, talvez Anna Karenina baste.

FILME: 7.0

3*

4 comentários em “Anna Karenina

  1. Kamila, concordamos quanto ao principal problema do filme: tudo relacionado à direção do Joe Wright funciona, mas o roteiro quase sabota o trabalho dele!

    Clóvis, eu não gosto da Keira Knightley e em outros trabalhos do Joe Wright ela não foi um problema para mim (especialmente em “Desejo e Reparação”). Só que, infelizmente, acho que ela não consegue segurar toda a complexidade do papel-título de “Anna Karenina”.

    Leonardo, é bem por aí: a Keira tem a elegância para filmes de época e segura aqueles vestidos clássicos como poucas… Mas está MUITO longe de ser uma das atrizes mais interessantes de sua geração.

  2. Keira Knightley é uma atriz que, infelizmente, acha que é uma Kate Winslet, mas não é. Linda e elegante, não tem o potencial para segurar uma personagem como Anna. Tudo errado, com exceção do visual e trilha – Master Piece!

  3. Estou muito curioso a respeito desse filme, mas quero ler o livro antes de assisti-lo. Mas há duas coisas nele que me interessam muito: Keira Knightley e Joe Wright. Especialmente Wright, que merecia muito uma indicação ao Oscar por sua direção em “Desejo e Reparação”.

  4. É inegável que o Joe Wright funciona muito bem como diretor de filmes de época. “Anna Karenina” é seu projeto mais ambicioso como diretor e um filme muito bem realizado do ponto de vista técnico. Entretanto, acho que o diretor peca por filmar um roteiro muito irregular, apesar de que a decisão dele de filmar a história sob um ponto de vista teatral funciona muito bem.

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