De todos os filmes da saga, Harry Potter e o Cálice de Fogo foi o menos favorecido pelo tempo. Hoje, ficam mais evidentes os excessos do longa, tanto em termos de direção quanto de elenco. Com a saída do mexicano Alfonso Cuarón, veio Mike Newell para liderar uma das partes mais fantasiosas da saga. Afinal, O Cálice de Fogo, além de reunir as já conhecidas figuras da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, também traz personagens de Durmstrang e Beuxbatons, instituições que chegam ao território dos protagonistas para um concurso interescolar de magia. Entram aí dragões, duelos, labirintos e outros tantos elementos que aqui se prestam à ação mais do que o habitual. Newell segurou relativamente bem os exageros desses detalhes que poderiam muito bem derrubar o enredo – o que acontece com a maioria de outros filmes que tentam copiar Harry Potter.
Porém, o êxito não foi completo: o maior problema de O Cálice de Fogo é a caricatura de vários personagens, sejam eles velhos ou novos conhecidos. Certas figuras entram mudas e saem caladas (o professor Igor Karkaroff e o aluno Vitor Krum exageram nas expressões malvadas para mostrar o lado sombrio da escola Durmstrang), outras parecem não compreender a essência de seus personagens (Michael Gambon inspira mais medo do que confiança com seu Alvo Dumbledore), coadjuvantes mais incomodam do que qualquer outra coisa (Brendan Gleeson está descontrolado como o professor Alastor Moody) e defeitos repetidos nas abordagens dos protagonistas ficam mais evidentes (Hermione é a careteira, Rony vira o bobo da corte e Harry fica no meio-termo). E tudo isso incomoda mais que… Robert Pattinson! O ator, que posteriormente bateria recordes de má interpretação como o vampiro Edward da saga Crepúsculo, está completamente inofensivo aqui.
Fora o incômodo detalhe da irregular direção de elenco, Harry Potter e o Cálice de Fogo continua com os méritos habituais da série. Por mais que a história deixe a sensação de que aqui tem uma interrupção com o tal torneio que acontece em Hogwarts, o resultado geral continua bem conduzido em termos de encantamento com o universo criado por J.K. Rowling. Se a trilha de Patrick Doyle decepciona profundamente (é, disparada, a pior que Harry Potter já teve), o resto continua um primor, em especial a direção de arte, que aqui tem a possibilidade de explorar vários pontos extras de Hogwarts (o baile de inverno é um momento que merece atenção). Ainda em tempo, finalmente dando rosto – ou não – para o grande vilão Voldemort (Ralph Fiennes), O Cálice de Fogo tem um clímax pesado e que já mostra a série crescendo com o público, distanciando-se de uma visão exclusivamente infanto-juvenil. É um atestado inegável de evolução em um filme que, com várias arestas ou não, pode até não ser surpreendente, mas que nunca deixa de saber para quem está falando.
FILME: 8.0
Confira também:
– Harry Potter e a Pedra Filosofal
Kamila, infelizmente não envelheceu bem mesmo… Lembro que, quando vi pela primeira vez, gostei bem mais!
Concordo plenamente com a frase de abertura de seu texto. “Harry Potter e o Cálice de Fogo” é o filme menos favorecido pelo tempo da série – e olha que o Mike Newell não é um diretor ruim. Para mim, esse é um filme totalmente esquecível. Não me lembro de absolutamente nada dele…