O Quarteto

Why do we have to get old?

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Direção: Dustin Hoffman

Roteiro: Ronald Harwood, baseado em peça homônima de autoria própria

Elenco: Maggie Smith, Tom Courtenay, Michael Gambon, Pauline Collins, Billy Connolly, Sheridan Smith, Andrew Sachs, Eline Powell, Luke Newberry, Ronnie Fox, Patricia Loveland, David Ryall, Gwyneth Jones

Quartet, Inglaterra, 2012, Comédia, 98 minutos

Sinopse: Cissy (Pauline Collins), Reggie (Tom Courtenay) e Wilfred (Billy Connolly) vivem em um lar para músicos aposentados. Diversas personalidades famosas, hoje aposentadas, convivem juntas, treinando seus dotes musicais e relembrando os tempos de sucesso. Todos os anos a casa realiza um concerto para recolher fundos que permitem a sobrevivência da instituição. A celebração, claro, é feita com apresentações musicais. Porém, quando Jean (Maggie Smith), ex-esposa de Reggie, integra a casa de repouso, a harmonia do local é quebrada. Enquanto os organizadores da festa vêem na presença de Jean uma oportunidade única de refazer o famoso quarteto que interpretou Rigoletto, com Cissy, Reggie e Wilfred, a nova habitante recusa-se a cantar. As amizades e os amores de antigamente são questionados na tentativa de convencê-la. (Adoro Cinema)

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Aos 79 anos, Maggie Smith parece estar vivendo o momento de uma jovem estrela: concorrendo (e vencendo) vários prêmios por trabalhos em TV e cinema, a veterana britânica tem participado de muitos projetos nos últimos anos. O momento de Maggie nos remete muito bem ao que ela viveu nos anos 1970, quando chegou a ganhar dois Oscars e reconhecimento incontestável por filmes como A Primavera de Uma SolteironaCalifornia Suite. E esse momento é gratificante não só para os fãs da atriz, mas também para qualquer espectador. Afinal, o cinema está precisando de grandes intérpretes com currículos respeitáveis em produções que lhe proporcionem o devido destaque. Eles não podem cair no esquecimento. Por isso mesmo, O Quarteto é um agradável passatempo que pede que o espectador esqueça por um momento as jovens estrelas de hoje para perceber que os intérpretes de gerações passadas ainda são a melhor referência.

Em sua estreia atrás das câmeras, Dustin Hoffman parece ter levado ao pé da letra essa proposta de entregar totalmente um filme a quem realmente merece. Se, em O Exótico Hotel Marigold, o diretor John Madden esqueceu o poder dos intérpretes que tinha em mãos para pensar primeiro em uma história que não levaria a grandes resoluções para depois deixá-los dominar o texto, o mesmo não acontece com O Quarteto, que, mesmo previsível e até mesmo raso, sabe de suas limitações e deixa que o talento dos atores seja o principal atrativo. E não é menos que prazeroso ver Maggie Smith encabeçando o elenco com um merecido destaque. Dizem por aí que ela tem se repetido (o que tem um fundo de verdade, já que no seriado Downton Abbey e nos filmes O Exótico Hotel Marigold e, agora, O Quarteto, suas personagens possuem basicamente o mesmo perfil e humor), mas isso de forma alguma é um problema. Humana, divertida e até mesmo reflexiva, Maggie tem, no filme de Dustin Hoffman, a melhor chance entre as produções já citadas, realizando tudo com a elegância que só uma atriz de seu calibre poderia ter.

Ela é, sem dúvida, a principal razão de O Quarteto valer a pena. O filme, no geral, é aquele que podemos chamar de agradável, inofensivo, leve… É um trabalho que Dustin Hoffman parece ter feito de forma muito descontraída enquanto tirava férias (e isso não é depreciativo), não querendo de fato explorar vontades pessoais e profissionais na obra. Isso fica perceptível porque O Quarteto nunca se superestima. Ao invés de aprofundar questões que não teria tanto cacife para abordar (como foi o caso de O Exótico Hotel Marigold, frequentemente sem ritmo por detalhar desnecessariamente algumas histórias), o filme resolve se entregar à simplicidade e mais especificamente ao carisma de seus intérpretes. Por isso mesmo, podemos relevar problemas básicos do roteiro, já perceptíveis na própria premissa: em tese, o tal asilo para músicos aposentados está precisando de dinheiro, mas todos as velhinhas se vestem com elegância, os funcionários trabalham tranquilamente como se recebessem o salário em dia e os cafés-da-manhã são fartos.

Assim, o tal conflito é apenas pretexto para que O Quarteto seja mais divertido do que reflexivo. As piadas, que envolvem basicamente a velhice, são adequadas ao clima proposto e, ainda que uma vez ou outra sejam quase sabotadas por personagens estereotipados (a senhora esquecida e engraçada, o velhinho piadista que flerta com a enfermeira), funcionam pela sua sinceridade e simplicidade. Esse clima inofensivo – e quase ingênuo – também se reflete na direção de Dustin Hoffman, que nunca deixa escapar a chance de fazer uma conversa emotiva ao pôr-do-sol, por exemplo. Por falar em emoções, o longa tem a sua parcela de pequenos dramas, especialmente aquela que envolve o conturbado relacionamento entre Jean (Smith) e Reggie (Tom Courtenay) – figuras que resumem bem questões delicadas sobre a velhice, como a força para lidar com arrependimentos, a capacidade de deixar o orgulho de lado para perdoar e a sensibilidade para finalmente esquecer o passado.

É perfeitamente compreensível a situação de quem não consegue se envolver com os conflitos previsíveis de O Quarteto, até porque todos nós sabemos que, se um personagem passa o filme inteiro dizendo não mesmo contra a opinião dos outros, ele irá eventualmente ceder e concordar com a maioria. No entanto, além de aproveitar a ilustre presença de Maggie e do resto do elenco (todos com algum passado musical), é necessário um olhar menos exigente com essa obra pequena, talvez até mesmo esquecível e que acaba um tanto abruptamente, mas que entende bem o que está contando, sem medo de assumir que o resultado é todos dos atores. Em tempos que grandes atrizes parecem ser esquecidas pelos diretores, é um alento ver uma veterana de 79 anos encabeçando um elenco com grande simpatia. Como o próprio pôster de O Quarteto indica, toda diva merece um bis. E que Maggie tenha muitos outros!

FILME: 7.5

3*

4 comentários em “O Quarteto

  1. Kamila, e tem aquelas que, como a Glenn Close, reclamam que os papeis de “mais idade” vão todos para a Meryl Streep. Mentira! Como você disse, Maggie Smith está aí para provar isso, mais ativa do que nunca!

    Cleber, eu só tinha curiosidade em função da Maggie Smith. E ela não me decepcionou =)

    Elton, o trabalho do Dustin Hoffman como diretor nada diz… Vale mesmo pela queridíssima Maggie!

  2. Ah, eu só veria mesmo por causa da Maggie Smith e por ser a estreia (curiosa e tardia) de Hoffman na cadeira de direção. Fora isso, nada me impressionou ou chamou minha atenção.

  3. Pois é. Enquanto muitas atrizes reclamam que perdem oportunidades de carreira após envelhecerem, a Maggie Smith está aí para provar justamente o contrário. Ela continua com uma carreira vigorosa e reconhecida por meio de premiações. Acho que a minha curiosidade maior em relação à “O Quarteto” é acompanhar a estreia de Dustin Hoffman como diretor. Acho que ele fez isso no momento certo, num instante de sua carreira em que ele não tem mais o que provar nada a ninguém. Ao que me parece, ele optou por uma história mais leve – e também gosto disso. Gosto ainda mais do elenco que ele reuniu para “O Quarteto”, que parece ser bem legal.

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