Colegas

Direção: Marcelo Galvão

Roteiro: Marcelo Galvão

Elenco: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Leonardo Miggiorin, Lima Duarte, Juliana Didone, Christiano Cochrane, Marco Luque, Maytê Piragibe, Otávio Mesquita, Theo Werneck

Brasil, 2011, Comédia, 99 minutos

Sinopse: Três amigos portadores da síndrome de Down vão superar suas limitações para correr atrás de seus maiores sonhos. Um dia, inspirados pelo filme Thelma & Louise, o grupo foge no antigo carro do jardineiro (Lima Duarte) e parte numa viagem que tem a felicidade como objetivo. Márcio deseja voar como um pássaro, Aninha espera arrumar um bom partido para se casar e Stalone só quer ver o mar pela primeira vez. Eles vão viver diversas aventuras juntos e irão descobrir que a liberdade é um direito de todos. (Adoro Cinema)

Só por sua proposta, Colegas já merecia aplausos. Ora, quando foi que o mundo das pessoas com deficiência – e, nesse caso, síndrome de down – teve um retrato tão livre de preconceitos e estereótipos? Normalmente, essa temática sempre é trabalhada com um olhar vitimizador, por muitas vezes enfadonho. É, então, no mínimo louvável a escolha do diretor Marcelo Galvão de criar uma história que, além de quebrar essa constante do retrato de pessoas com deficiência, brinca com o tema e traz uma inovadora percepção sobre o assunto. Ao contar a história de três jovens (Ariel Goldenberg, Breno Viola e Rita Pokk) fãs do filme Thelma & Louise que resolvem fugir da instituição onde vivem para realizar seu sonhos, Colegas esbanja otimismo e um humor nonsense irresistível.

Stalone quer ver o mar. Aninha quer um marido. Márcio quer voar. A partir dessas motivações, os personagens roubam um carro e passam a ser procurados pela polícia. Com muitas referências (e elas são realmente infinitas, indo de Psicose a Cidade de Deus, por exemplo),  Colegas é uma grata surpresa por, justamente, unir o tema síndrome de down com uma narrativa perfeitamente cinematográfica, sem nunca parecer mera panfletagem ou um hino de culpa social. Grande vencedor do 40° Festival de Cinema de Gramado, onde foi ovacionado em sua sessão com aplausos entusiasmados durante e após o filme, o novo trabalho de Marcelo Galvão ainda fez bonito nos bastidores: no Festival, teve sessão de audiodescrição – prática ainda inacreditavelmente escassa e que só tornou a sessão ainda mais especial. A recepção refletiu a proposta de Colegas: fazer com que o espectador esqueça o fator síndrome de down e embarque em uma divertida aventura.

Claro que, por se tratar de um longa protagonizado por jovens com síndrome de down, Colegas toma algumas liberdades que não seriam possíveis com protagonistas convencionais. Ou melhor, tornariam o filme forçado, irritante. Ariel Goldenberg, Breno Viola e Rita Pokk são as grandes estrelas do longa. É gratificante acompanhá-los nessa jornada que, através da caricatura de personagens que seriam os “vilões” (como é o caso dos policias e dos apresentadores de TV exagerados), brinca com extrema naturalidade com temas delicados, a exemplo do corriqueiro uso de termos como “retardado” e “mongolóide”. Além da naturalidade, Colegas ainda faz piada disso. Em determinado momento, um dos protagonistas, apaixonado por uma “gordinha”, pede para beijá-la. A moça imediatamente responde: “Você não notou que somos diferentes?”. E ele retruca: “Não tem problema, eu gosto de gordas”. Por momentos assim, onde não existe qualquer amarra com o politicamente correto ou com a necessidade de falar sobre o tema com receio, o longa ganha o espectador.

Contando com os mais variados tipos de locação (incluindo algumas em Buenos Aires), Colegas é espirituoso e bem humorado no seu tom de fábula. Por fugir da abordagem emocional (o que talvez decepcione quem espera algo mais dramático) e por tratar do tema sem qualquer preconceito, o filme de Marcelo Galvão faz o espectador sair da sessão de alma leve. É uma baita lição, e o longa não precisa estampar isso a cada cena. No acender das luzes, o espectador sai da sessão sem se importar muito com o final apressado e abrupto, com os coadjuvantes inexplorados (Lima Duarte é um deles) ou com situações não tão inspiradas ou bem executadas. A verdade é que Colegas, antes de tudo, é uma experiência humana. E esse seu inestimável valor já significa mais do que muitas tentativas de expressão de nosso cinema. Uma vitória!

FILME: 8.0

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4 comentários em “Colegas

  1. Pingback: Somos mesmo tão diferentes assim? - OCA

  2. Parece ser um bom filme, mas Marcelo Galvão na direção deixa um pé atrás. Ele fez o péssimo “Bellini e o Demônio” e o razoável “Quarta B”.

    Abraço

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