40º Festival de Cinema de Gramado: resultados

“Colegas” foi o melhor filme pelo júri oficial

O Festival de Cinema de Gramado renasceu. Se exista qualquer dúvida sobre a nova curadoria formada por José Wilker, Rubens Ewald Filho e Marcos Santuário, ela foi esquecida durante todo o desenrolar do evento. Agora, Gramado livrou-se das amarras de filmes excessivamente alternativos (e, por isso mesmo, incompreensíveis em muitas vezes) para abraçar o cinema de boa qualidade, independente de gênero ou formato. A 40ª edição trouxe dramas, comédias, documentários e muitas surpresas agradáveis para o público cinéfilo que compareceu à cidade gaúcha de 10 a 18 de agosto.

Se o primeiro dia de exibição não foi lá muito inspirado, com o decepcionante filme de abertura, 360, de Fernando Meirelles, e o apenas simpático Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida, de Matheus Souza, a programação, posteriormente, trouxe obras com diferentes olhares e que fazem uma interessante radiografia do cinema brasileiro contemporâneo: O Que se Move falou sobre intensos dramas femininos; Colegas é uma comédia sensível de fazer qualquer um sair leve e renovado do cinema; O Som ao Redor fez mais o estilo da crítica; e a música invadiu o Palácio dos Festivais com Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now! e Jorge Mautner: O Filho do Holocausto.

Andrea Marquee e Cida Moreira receberam o prêmio de melhor atriz representando Fernanda Vianna, por “O Que se Move”

Como qualquer premiação do mundo, o Festival de Cinema de Gramado teve suas injustiças na hora de escolher os melhores do ano. Porém, nenhuma tão grave a ponto de sequer chegar perto de abalar a nova reputação construída pelo evento. Mas algumas injustiças foram mais sentidas entre os premiados. A maior delas, sem dúvida, foi a premiação para a atriz Fernanda Vianna, de O Que se Move. Injusta no sentido de que ela deveria dividir o prêmio com as suas duas companheiras de tela, Cida Moreira e Andrea Marquee. Todas estão sobrenaturais nesse filme em que, assim como no impecável As Horas, é impossível dizer que uma é melhor do que outra – especialmente quando elas, no filme de Caetano Gotardo, possuem histórias dividas em três blocos, que nunca se cruzam.

E se a crítica não ficou lá muito empolgada com a vitória de Colegas como melhor filme pelo júri oficial – confirmando o bobo preconceito com comédias mais “comerciais” para o grande público (o que também mostra a falta de compreensão com o novo olhar da curadoria) -, os especializados não podem reclamar muito, já que O Som ao Redor conquistou importantes prêmios do júri popular e da crítica. Entre os curtas, Menino do Cinco foi soberano, em parte ao seu polêmico e impactante desfecho. Meu favorito, por outro lado, Um Diálogo de Ballet, saiu de mãos vazias. O conflito de gerações entre dois homossexuais narrado de forma bastante lírica parece não ter conquistado os votantes.

César Charlone dominou os prêmios latinos com seu “Artigas, La Redota”

A mediana seleção de filmes latinos desse ano se refletiu na própria cerimônia de premiação. César Charlone executa Artigas, La Redota com sua habitual competência, mas parece que os júris se apaixonaram excessivamente com o filme, que não deu qualquer chance para outros exemplares se destacarem na distribuição de Kikitos. Assim, é de se lamentar que o belíssimo Leontina, documentário muito pessoal do diretor Boris Peters sobre sua solitária avó, tenha saído com uma mísera (mas merecida) lembrança na categoria de melhor fotografia. Pela forma contemplativa com que traz belas imagens e usa a impecável trilha de Jorge Aliaga como elemento fundamental para a cadência do filme, Leontina merecia, inclusive, superar o filme de Charlone. Seria mais original, menos previsível e, claro, merecido.

Tudo isso, porém, são questões de preferência mesmo e que não diminuem a boa posição que o 40º Festival de Cinema de Gramado alcançou em seus oito dias de programação. Fora os problemas técnicos, como a falta de energia e as falhas sonoras (perfeitamente corriqueiras em vários festivais), Gramado alcançou, realmente, um nível surpreendente se comparado ao que vinha apresentando em anos anteriores. Agora, o cinema apresentado no Festival é universal. Os ingressos a preços populares, a proximidade entre realizadores e público em debates e a constante presença de toda a equipe do evento deram ao Festival o pontapé inicial para a retomada de sua carreira de referência no cenário da cinematografia latino-americana. Confira, no site oficial, a lista completa de vencedores.

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