Dizem que eu vou morrer de arrogância…
Direção: José Henrique Fonseca
Roteiro: José Henrique Fonseca, Felipe Bragança e Fernanda Castets, com a colaboração de L.G. Bayão
Elenco: Rodrigo Santoro, Aline Moraes, Herson Capri, Othon Bastos, Angie Cepeda, Orã Figueiredo, Erom Cordeiro, Henrique Juliano, Candido Damm
Sinopse: O jogador de futebol Heleno de Freitas (Rodrigo Santoro) era considerado o príncipe do Rio de Janeiro dos anos 40, numa época em que a cidade era um cenário de sonhos e promessas. Sendo ao mesmo tempo um gênio explosivo e apaixonado nos campos de futebol, além de galã charmoso nos salões da sociedade carioca, tinha certeza de que seria o maior jogador brasileiro de todos os tempos. Mas seu comportamento arredio, sua indisciplina e a doença (sífilis) foram minando o que poderia ser uma grande jornada de glória, transformando-a numa trágica história. Baseado no livro “Nunca Houve um Homem como Heleno”, de Marcos Eduardo Novaes. (Adoro Cinema)
Qual foi o último filme marcante do cinema brasileiro contemporâneo que você viu? Vasculhando minhas memórias, lembro, logo de cara, do maravilhoso À Deriva. Não sei se esqueci de outros, mas, desde a experiência que tive com o longa de Heitor Dhalia, não ficava tão satisfeito com o nosso cinema como em Heleno. Cinebiografia do primeiro jogador de futebol considerado “craque” no Brasil, o filme de José Henrique Fonseca se destaca por tomar rumos completamente diferentes de outras terríveis obras sobre jogadores produzidas pelo cinema brasileiro como Garrincha – Estrela Solitária. Existe pouco futebol em Heleno – no máximo dois ou três momentos que encenam partidas (e todas ao som de óperas). Na realidade, o esporte serve apenas como guia para compreendermos a difícil figura do protagonista dessa história.
Heleno, primeiro jogador brasileiro vendido ao exterior (e por um valor recorde), era considerado o “príncipe” do Rio de Janeiro dos anos 1940. Não era para menos: sucesso nos campos, esbanjava beleza, tinha uma ativa vida boêmia e era sempre rodeado por mulheres. Como ele mesmo dizia, tinha exatamente tudo o que desejava – só faltava conhecer John Wayne e acender um cigarro como ele. E é maravilhoso constatar que, ao invés de cair na obviedade e apresentar Heleno como uma figura solitária, mesmo sendo tão badalada, o filme tem seu foco na autodestruição do personagem, mostrando como toda sua arrogância foi fator fundamental para o início de sua decadência.
Cheio de si, Heleno acreditava que sua beleza seria infinita, que doenças nunca abalariam seu desempenho nos campos e que ele poderia fazer e falar o que quiser por ser o maior astro do futebol até então. Contados com muita sutileza, esses fatos ganham tons interessantíssimos naquele que deve ser o aspecto mais fascinante de Heleno: a interpretação de Rodrigo Santoro. O ator, que investiu dinheiro do próprio bolso para a realização do filme, alcança um momento superlativo com essa chance, nunca tendo sua beleza como elemento limitador (pelo contrário, só ajuda no magnetismo do personagem) e transitando com notável naturalidade por todas as fases da figura que interpreta, de talentoso e desejado jogador até decadente e enfermo homem apegado ao passado.
Narrado com bastante elegância e com um preto-e-branco fundamental nesse processo, Heleno aposta na falta de cronologia para apresentar sua história. Só que, ao contrário do recente A Dama de Ferro, tal escolha tem lógica e só conta pontos a favor: serve para construir a personalidade do protagonista e não só para impressionar com o excepcional trabalho corporal de Santoro. E se o roteiro não consegue, uma vez ou outra, se desviar dos clichês básicos do gênero (e não poderia falar o casamento feliz que, depois, traz a situação do marido ausente e a mulher descabelada com nenê chorando no colo), o roteiro consegue lidar muito bem com aquilo que poderia ser fatal nas mãos erradas:o gênio difícil e o destempo do protagonista. Não temos repulsa, mas sim curiosidade em acompanhar a trajetória desse difícil sujeito. E essa é apenas uma das qualidades inegáveis de Heleno.
FILME: 8.5
NA PREMIAÇÃO 2012 DO CINEMA E ARGUMENTO:
Raphaela, assista! É ótimo!
Kamila, é de se lamentar mesmo que “Heleno” tenha passado tão despercebido nos cinemas. Vale, no mínimo, pela maravilhosa interpretação do Rodrigo Santoro.
Rafael, para mim, foi uma completa surpresa!!
Pra mim esse filme é uma total decepção. Acho o roteiro uma bagunça só, redundante, exagerado, sem vida, sem interesse. Fotografia e atuação do Santoro, ambas em tom grandioso, parecem maior que o próprio filme. Heleno não os merece.
Lamento muito que este filme tenha tido uma trajetória tão discreta nos cinemas brasileiros. Não tive a chance de assistir ainda, mas teu texto é somente mais um dos que elogiam por demais “Heleno”. Estou muito curiosa para conferir este filme, ainda mais por ser uma apreciadora e apoiadora do nosso cinema.
incrível como esse filme só tem recebido elogios.. bateu uma vontadezinha de assistir..