Bobby Griffith fazia parte de uma família extremamente religiosa. Ele, inclusive, acreditava em Deus e era um católico praticante. Todavia, Bobby escondia um segredo que ia contra todos os ensinamentos cristãos pregados por sua família: ele era gay. O cenário? Estados Unidos dos anos 1970, onde homossexuais eram vistos como seres pecadores. Também era a época em que Harvey Milk, um político e ativista gay de grande popularidade, foi assassinado. A AIDS começava a se alastrar e era exclusivamente relacionada ao mundo homossexual. Ou seja, já não bastasse a família extremamente religiosa, Bobby ainda enfrentava tempos difíceis, onde o mundo não fazia questão de abraçar os gays. Ele se assumiu, e a família o rejeitou, especialmente a mãe, Mary. Tal situação permaneceu até o último minuto de sua breve vida, quando, aos 20 anos, Bobby se atirou de uma ponte e faleceu ao ser atingido por um caminhão. Sua mãe, devastada, passa a compreender o mundo do filho tempos depois, quando lê os diários deixados por ele. A partir daí, muda a sua visão do mundo e passa a lutar pelos direitos gays. A vida de Bobby, bem como a mudança de Mary, é relatada no livro Prayers for Bobby – A Mother’s Coming to Terms With the Suicide of Her Gay Son, que, em 2009, chegou a ser adaptado para um telefilme estrelado por Sigourney Weaver.
Leroy Aarons, jornalista e escritor falecido em 2004, conheceu a família Griffith no ano de 1989. A partir de seu envolvimento com as histórias do jovem Bobby contadas pela mãe, Mary, Aarons escreveu Prayers for Bobby, um livro até hoje sem tradução para o português, e que preserva muito a linguagem jornalística de seu autor. Qualquer pessoa que tiver a oportunidade de entrar em contato com o trabalho, notará a frequente característica do escritor em contar histórias paralelas e, principalmente, em situar o leitor no contexto social e político dos Estados Unidos dos anos 70. Prayers for Bobby, se assim podemos dizer, é um livro de relatos, e não especialmente uma obra com traços daquela dramaturgia com início, meio e fim, onde fatos reais recebem linguagem e tratamento ficcionais. O trabalho de Leroy Aarons, na realidade, é quase exclusivamente informativo, apenas apresentando fatos e situações, deixando de lado maiores interpretações sobre os personagens e seu sentimentos.
Aqui, conhecemos Bobby e somos apresentados a momentos que marcaram sua autodescoberta, mudanças que foram definitivas na sua vida e pessoas que tiveram grande influência em suas decisões – sejam elas positivas ou negativas. Também ficamos a par da vida de Mary, desde a sua formação religiosa e seu cotidiano como esposa até o trágico fato envolvendo Bobby que mudou a sua vida. Mesmo que Prayers for Bobby não se utilize de maiores romantismos para contar a vida dos dois, também não faz a mínima questão de tomar partido. Bobby foi sim injustamente incompreendido e sua breve vida tão promissora foi completamente marcada por tristezas. Entretanto, o autor não quer endeusá-lo. Bobby tinha falhas, gênio difícil e frequentemente tomava decisões que não eram as mais inteligentes para o estilo de vida daquela época (o jovem chegou a ser, por livre e espontânea vontade, garoto de programa, o que dificultaria ainda mais sua aceitação na sociedade). A mãe também está longe de ser vilanizada. Aarons aproveita a oportunidade para mostrar que a religião de Mary tinha um propósito em sua vida e que seu sentimento de controle não era só em relação aos filhos, mas também ao próprio marido, uma vez que o casamento dos dois passou por fortes turbulências devido ao ciúmes obsessivo de Mary.
Dessa forma, Prayers for Bobby é bem sucedido como um registro humano e histórico da luta pelos direitos gays e, mais do que tudo, pela necessidade de diálogo entre pais e filhos. É uma história universal e que, bem como o filme estrelado por Sigourney Weaver, mostra que, antes de hetero/homossexuais (ou qualquer outro termo que preferirem), somos humanos. Leroy Aarons, em cerca de 260 páginas (considerando a versão da editora HarperOne lançada nos Estados Unidos), luta por isso, pela conscientização de que todos somos iguais, independente de sexualidades. E isso é o que mais importa em Prayers for Bobby. É certo que o autor poderia ter apresentado um estilo mais elaborado do ponto de vista narrativo (a forma como vai e volta no tempo, alternando capítulos entre Mary e Bobby não chega a ser tão atraente), livrando-se do previsível caráter jornalístico, onde, a todo momento, cita datas, nomes e cidades – algo que, no final das contas, o leitor não absorve muito. De qualquer forma, é apenas detalhe de um livro que cumpre sua missão de mostrar como a falta de conhecimento, bem como a intolerância, pode tornar esse mundo ainda mais doloroso. Não chega a ser tão impactante ou emocionante quanto o telefilme exibido em 2009 pela Lifetime, mas também tem o seu valor humano. É o retrato de uma sociedade desinformada e ignorante que, infelizmente, até hoje tem o seu legado.
Alguém conhece esse garoto que Sigourney Weaver abraça no final
É extramamente facil supor que o Bobby se prostituia por pura vontade. E comum que pessoas marginalizadas acabem nesse caminho. E ainda assim, acho bem complicado citar que ele tinha gênio forte como um defeito e incluir prostituição no caminho. Não creio q a prostituição seja um bom meio de vida. Deve ser extramemente opressor para quem o vive mas chamar de defeito,julgar como confortavel é leviano.
É basicamente o que acredito também. Com o estilo de vida “por debaixo dos panos”, a pessoa tende a seguir caminhos que o façam atingir seus objetivos pessoais (neste caso, a possível realização sexual do Bobby). É complicado de se discutir isso sem estudar de forma profunda o que realmente se passou. Quero muito ler o livro!
esse livro tem em portugues?
Não as livrarias brasileiras não se interessaram pela tradução
Estou tendo dificuldade de encontrar esse livro em algum site de compra. Alguém aí sabe de algum?
Diego, comprei o livro pelo Amazon.com =)
Eu quero esse livro, como faço para consegui-lo??
Alyson, o livro não é raso, só perde em emoção para o filme da Lifetime =)
Adecio, o livro é ótimo!
Wilson, uma pena que esse livro nunca chegou ao Brasil…
Kamila, o filme é de arrepiar, muito emocionante. Vale a pena procurar!
Ainda não assisti ao telefilme protagonizado por Sigourney Weaver, mas dá para perceber que essa obra fala de um tema fortíssimo. Um amigo assistiu e chorou copiosamente. Pena que a obra não teve distribuição por aqui, né? Vou tentar procurar o livro.
Não tive oportunidade de conferir o livro, que seu texto me inspirou muito a buscar ter acesso. A adaptação televisiva é um interessante cult-classico do cinema GLBT, e eu curto bastante! Parabéns pelo execelente texto analítico! Abraço
Parece ser um livro fantástico.
Se for tão tocante (e por isso mesmo inesquecível) quanto o filme, deve ser uma leitura maravilhosa!
Grande abraço!
Interessante saber das coisas que o telefilme não relata, como a prostituição e demais características da mãe de Bobby. E uma pena saber que tal história no filme se torna aparentemente raso (segundo o que escreveu) já que no filme por si só já nos impacta, mesmo carente de algumas qualidades técnicas.
Abraço!