Melhores de 2010 – Roteiro Adaptado

Fiquei duas vezes impressionado com o roteiro de Tom Ford e David Scearce para Direito de Amar. A primeira foi quando assisti o filme sem qualquer conhecimento da obra original, Um Homem Só – Flagrante de Uma Profunda Solidão, de Christopher Isherwood. A segunda foi após ter lido o texto do britânico. Em ambas oportunidades ficou evidente, pelo menos pra mim, a potente força dramática de um filme que encontra na sutileza a sua principal engrenagem. Direito de Amar é um filme de emoções contidas que se acumulam a cada minuto de projeção e que no, final das contas,  resultam em algo extremamente melancólico. A elegância da narrativa constrói uma das histórias mais bonitas sobre perda dos últimos anos. Sem falar de uma brusca mudança no protagonista que, no livro, era um sujeito amargamente antipático e que, no longa, tornou-se um homem sofrido e triste, porém admirável. Uma escolha mais do que acertada e que só melhorou ainda mais as emoções de Direito de Amar. Um filme que conseguiu ser melhor que o livro. Algo raro de se encontrar. Para uma dupla de iniciantes, Ford e Scearce se mostraram verdadeiros gênios.

OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE

O roteiro de Os Famosos e os Duendes da Morte é um dos mais raros no cinema brasileiro contemporâneo. Gostando ou não do longa de Esmir Filho, ninguém poderá dizer que o resultado se parece com qualquer outro que tenha sido produzido no Brasil recentemente. Muito disso se deve não apenas ao trabalho de Esmir atrás das câmeras como diretor, mas também ao roteiro que ele escreveu junto com Ismael Caneppele, autor do livro que deu origem ao filme. Trabalhando os dilemas do protagonista de forma extremamente metafórica e subjetiva, o roteiro de Os Famosos e os Duendes da Morte pode, sem dúvida alguma, servir de exemplo de inspiração e maturidade para o cinema nacional.

EDUCAÇÃO

O estilo britânico de narrar histórias não está presente apenas na direção de Lone Scherfig ou na reconstituição de época de Educação. O estilo britânico também se mostra vivo na forma como o roteiro faz um preciso delineamento da trajetória de Jenny (Carey Mulligan). Para muitos, pode ter um ritmo meio lento e sem acontecimentos, mas isso é essencial para que o texto de Nick Hornby construa, com várias sutilezas, o crescimento emocional e psicológico da personagem. Pode ser que, durante o filme, até não notemos (e esse é um grande mérito), mas, no final, vemos que a Jenny do desfecho está longe de ser aquela que nos foi apresentada inicialmente.

HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE – PARTE 1

Pelo menos para mim, essa primeira parte de Harry Potter e as Relíquias da Morte era uma tragédia anunciada. Detesto a primeira parte do livro de J.K. Rowling e o filme tinha tudo para seguir a monotonia que reinava durante a primeira parcela do livro. Para a minha surpresa, Steve Kloves fez um trabalho surpreendente com o roteiro. A maioria do público que não teve contato com a obra original condenou o ritmo lento do enredo. Porém, a verdade é que a versão cinematográfica conseguiu ser bem melhor que a literária. Não só no sentido de descobertas ou de acontecimentos mágicos na vida do protagonista. A emoção também foi bem pontuada.

AMOR SEM ESCALAS

Quando Preciosa – Uma História de Esperança tirou o Oscar de roteiro adaptado das mãos de Amor Sem Escalas, a confusão foi grande. Muitos reclamaram da escolha, enquanto uma pequena parcela apoiava. Fico no grupo que considerava essencial a vitória do filme de Jason Reitman na categoria, ao passo que o melhor, Direito de Amar, nem concorria. Amor Sem Escalas tem aquele tipo de texto que narra uma história contemporânea e, ao mesmo tempo, traz diálogos inteligentes e reflexivos. Existem algumas previsibilidades no desenvolvimento – especialmente no final – mas nada que apague o dinamismo desse ótimo trabalho.

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Escolha do público:

1. Direito de Amar (15 votos, 38.46%)

2. Amor Sem Escalas (14 votos, 35.09%)

3. Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 (5 votos, 12.82%)

4. Educação (3 votos, 7.69%)

5. Os Famosos e os Duendes da Morte (2 votos, 5.13%)

8 comentários em “Melhores de 2010 – Roteiro Adaptado

  1. Weiner, considero “Educação” um filme bem subestimado…

    Kahlil, não sou fã de “A Rede Social”. Nem mesmo do roteiro. Acho tudo nesse filme superestimado. Só gosto de verdade da montagem, da trilha e do Andrew Garfield.

    Luís, não tenho ideia! =P Mas só leio aquelas histórias que realmente me interessaram. Não tive vontade, por exemplo, de ler “Bilionários por Acaso”.

    Alan, o filme inteiro é um primor!

    Alexsandro, como coloquei no meu post de regras, considero o roteiro de “Tropa de Elite 2” ou “Toy Story 3” originais. Ao contrário dessa regra sem coerência das premiações, acho que roteiro é sobre história, não sobre personagens. Não tem sentido considerar adaptado um roteiro que criou uma história original. Por isso, decidi fazer diferente =)

    Victor, eu acho que HP 7.1 depende do 7.2 pra continuar sua história, mas não sei se ele é inteiramente dependente… Só acho que é um enredo que fica sem conclusão. O resto (início e desenvolvimento) acho ok. Mas confesso que fui influenciado por ter lido a obra de J.K. Rowling.

    Reinaldo, “A Rede Social” não passou nem perto da minha seleção…

  2. Posso dizer que a lista é interessante, mesmo sem concordar. hehe
    Entendo Educação e O Direito de Amar.

    Acho HP7 um bom filme e nada além disso. Pra quem leu o livro, talvez o roteiro tenha funcionado, mas pra quem não leu (como eu), a impressão é de um roteiro sem força, sem objetivo. Muito também pelo sentimento de ser um filme que não se sustenta isoladamente, que precisa do HP7.2 pra sobreviver.

    Amor sem Escalas é mais interessante, mas também acho que a mensagem é incompleta. Sinto que o filme a qualquer momento vai decolar (com o perdão do trocadilho), e isso não acontece. Termino o filme com a sensação de que falta algo

    E não vi ainda Os Famosos e Os Duendes da Morte.

    Faço menção a pelo menos A Rede Social, Tropa de Elite 2 e Preciosa.

    Abs!

  3. Pois é, Os Famosos e Os Duendes da Morte é um trabalho muito diferente dos que estamos acostumados a ver no cinema nacional, mas do próprio cinema brasileiro, ainda prefiro o roteiro de tropa de elite 2. Da sua lista, só se deve repetir na minha Amor Sem Escalas. Não vejo grande coisa no roteiro de Direito de Amar, Educação e HP7, ainda que esse seja um dos melhores trabalhos da saga nesse aspecto.

  4. Bem, não poderia propriamente concordar, pois não li nenhum livro dos citados. Mas, tenho que concordar com o primeiro colocado, ‘direito de amar’ é um primor.

  5. Tenho uma dúvida: por ano, você lê cerca de quantas obras originais que foram adaptadas para o cinema no ano anterior?

  6. Tivemos em comum DIREITO DE AMAR e AMOR SEM ESCALAS, medalha de prata e ouro na minha seleção, respectivamente. Concordo com os demais também – especialmente AN EDUCATION, belíssima adaptação do livro de Hornby.

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