Nosso Lar

Um dia você vai entender. Sempre há tempo para recomeçar.

Direção: Wagner de Assis

Elenco: Renato Prieto, Othon Bastos, Ana Rosa, Paulo Goulart, Werner Schünemann, Lu Grimaldi, Rosane Mulholland, Helena Varvaki

Brasil, 2010, Drama, 109 minutos

Sinopse: Ao abrir os olhos, André Luiz (Renato Prieto) sabe que não está mais vivo, apesar de ainda sentir sede e fome. Ao seu redor ele apenas vê uma planície escura e desértica, marcada por gritos e seres que vivem na sombra. Após passar pelo sofrimento no purgatório, André é levado para a cidade de Nosso Lar. Lá ele tem acesso a novas lições e conhecimentos, enquanto aprende como é a vida em outra dimensão.

Chega ser até irônico como uma personagem de Nosso Lar compreendeu a minha agonia ao assistir o filme. Em certa passagem, uma moça (desculpem, não vou perder mais do meu tempo com esse filme procurando o nome dela) diz: “Aposto que você também está louco para ir embora. Aposto que você não aguenta mais esse moralismo. Todo mundo tem algum conselho para te dar, né?”. A tal personagem faz esses comentários justamente quando está abandonando o chamado “Nosso Lar” da trama. Durante todo o filme, fiquei com a mesma sensação que ela.

O principal problema de Nosso Lar é que ninguém parece normal. Todo mundo na história tem alguma filosofia para ensinar ou alguma lição de moral para mudar o jeito de pensar do protagonista. Todos com aquela expressão de sabedoria, como se toda a população formasse um grupo de auto-ajuda incomparável. São essas representações, junto com os diálogos enfadonhos, que conferem ao longa-metragem de Wagner de Assis um caráter forçado. Nada é dito com naturalidade e os atores parecem simplesmente ter decorado as falas, sem se preocupar em sair do piloto automático.

Outro agravante é que Nosso Lar não sabe dialogar com outro público a não ser aquele que acredita em doutrinas espíritas. Infelizmente, não é um filme que sabe desviar da barreira temática e realizar algo universal. Pelo contrário. Acho difícil algum leigo no assunto conseguir se envolver com o enredo – principalmente quando ele é encenado tão sem naturalidade pelo elenco e pelo roteiro. Junte a isso efeitos especiais que, ao invés de encantarem, só plastificam ainda mais toda a situação. De destacável mesmo só a trilha do sempre mestre Philip Glass – mas nem ele sai ileso, uma vez que nada fez além de reciclar outros trabalhos seus como Notas Sobre Um Escândalo e Sob a Névoa da Guerra.

Se formos comparar Nosso Lar com o trágico trabalho anterior do diretor Wagner de Assis, A Cartomante, podemos notar uma certa evolução dele como diretor. Por mais que esse filme baseado na obra de Chico Xavier seja cheio de problemas estéticos e narrativos, pelo menos não estamos diante de um trabalho histérico como A Cartomante. Creio que Nosso Lar até seja um filme satisfatório para quem acredita no espiritismo. Como não sou desse ramo, fui avaliar o filme apenas como cinema e me decepcionei bastante. Faltou um texto mais abrangente e que não excluísse tanto quem está de fora do assunto. Numa tentantiva, então, de atrair o espectador pelo visual, também falhou. Uma pena. Nosso Lar é uma sucessão de tentativas que não deram certo.

FILME: 5.0


8 comentários em “Nosso Lar

  1. Quando eu assistir o filme não tinha conhecimento nenhum da doutrina espirita, mas ficou muito claro a história, para quem não tem conhecimento básico da vida, realmente o filme não se torna interessante, mas para que é mais intelectual ou instruído vai pesquisar e se aprofundar no tema antes de forma uma opinião. Pesquisei e digo que o filme e um retrato da verdade que para muitos soam como loucura, magica, fanatismo, enganação etc. Mas o filme demostra leis que não se importam se você acredita ou não, morte apenas uma passagem.

  2. Brenno, isso mesmo!

    Mateus, e como eu mencionei, nem o Glass escapa das críticas, já que ele simplesmente só fez uma reciclagem de outras trilhas dele…

    Weiner, pois é… E o pior é que eu não tenho a mínima vontade de conferir o livro hahaha

    James Lee, que ABSURDO você ter deixado de ver “A Origem” para conferir “Nosso Lar” =O

    Kamila, se foi esse o objetivo, não consegui sentir isso… Achei o filme muito falho na hora de emocionar.

    Roberto, o único aspecto que mais chamou a minha atenção foi a trilha do Philip Glass…

  3. Eu concordo com o Weiner. Pra quem não leu o livro, é frustante em muitos momentos! Eu gostei do resultado, principalmente da parte visual do filme. O diretor de fotografia (que, dizem, é o mesmo que realizou a do filme O Dia depois de Amanhã) é extraordinário.

  4. Eu discordo totalmente de você num ponto: acho que este filme quer é sensibilizar. Sejam aqueles que creem na doutrina espírita ou aqueles que não creem! É esse o objetivo principal da obra.

  5. Quando me lembro que paguei ingresso pra ver este filme, me dá um arrependimento, e olha que na época tive a chance de ver “A origem” no cinema, mas não, prefiri “prestigiar o cinema nacional”, rs Enfim, achei o filme péssimo em todos os sentidos.

  6. “Nosso Lar” funciona melhor para aqueles que leram o livro, e que já conheciam mais sobre o espírito André Luiz. Assistir ao filme sem nenhum embasamento é constrangedor, pois muita informação “absurda” é despejada de uma só vez.
    Para mim, que já conferi o livro psicografado por Chico Xavier, “Nosso Lar” foi mais proveitoso; imperfeito, sim, mas um longa que chegou a emocionar.

  7. Queria ser sensato a esse ponto ao julgar o filme, mas não consigo. É um filme revoltante, péssimo. Como você lembrou (claro que você lembraria, né?), a única coisa boa do filme é a trilha de Glass — coisa que fez todo o pessoal da produção se orgulhar do filme; e Glass, espero, passar vergonha. Dou 1/10, e minha colega também escreveu sobre o filme no Observatório.

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