
Perigosa, de Alfred E. Green
Com Bette Davis, Franchot Tone e Margaret Lindsay

Outra grande interpretação de Bette Davis – que recebeu, merecidamente, seu primeiro Oscar de melhor atriz com esse filme. Perigosa é enxuto e objetivo (não chega a ter nem 80 minutos de duração) e narra, com muita habilidade, a vida de uma estrela decadente e alcóolatra que encontra em uma nova paixão a possibilidade de se reerguer. Os diálogos são ótimos e tanto Davis quanto o seu par Franchot Tone colocam muita verossimilhança em cada palavra. Perigosa não chega a ser um daqueles clássicos estupendos que encantam em todos os aspectos – mas só pela maravilhosa interpretação de Davis e pelo excelente roteiro já temos um longa-metragem digno de maiores elogios.
FILME: 8.5

À Deriva, de Heitor Dhalia
Com Débora Bloch, Vincent Cassel e Laura Neiva

Logo o filme já começa e já dá para perceber que À Deriva não é um produto qualquer. Só a linda trilha sonora e a fotografia diferente já nos trazem a sensação de que o novo longa-metragem de Heitor Dhalia se difere de tantos dramas corriqueiros no cinema brasileiro. E, na medida em que o roteiro se desenvolve, mais temos essa certeza. Não só tem claras referências derivadas de Desejo e Reparação – notem como a personagem de Laura Neiva lembra muito a Briony Tallis de Saoirse Ronan: ela é jovem, muito madura para a sua idade e, de um jeito ou de outro, passa a interagir com o mundo adulto em sua volta (assim, criando sua própria visão dos fatos). À Deriva narra um verão de uma família que está sucumbindo devido a dificuldades emocionais. Não sei se Heitor Dhalia alcançou um resultado excepcional, mas conseguiu, com muita facilidade, realizar o melhor filme nacional desde Jogo de Cena.
FILME: 8.5

A Vida de David Gale, de Alan Parker (revisto)
Com Kevin Spacey, Kate Winslet e Laura Linney

Tinha assistido esse filme muitos anos atrás e lembro de ter ficado extremamente surpreendido com o resultado. Numa revisão, não me pareceu tão maravilhoso quanto eu lembrava e algumas falhas e clichês ficaram mais evidentes. Mas, ainda assim, permanece como um filme exemplar. Começamos pelo ótimo elenco: o trio Spacey-Winslet-Linney está ótimo, todos honrando os seus respectivos nomes. Além deles, o roteiro é muito bem amarrado e tem cenas bem intensas – principalmente aquelas que envolvem o desfecho da personagem de Linney. A Vida de David Gale tem duas horas de duração e se sustenta muito bem até o final (tanto, que até a última tomada traz uma última revelação). É um suspense que não está livre de aspectos desnecessários, mas que tem um balanço final extremamente positivo.
FILME: 8.5

A Última Noite, de Robert Altman (revisto)
Com Meryl Streep, Kevin Kline e Lily Tomlin

Esse foi o último filme de Robert Altman e poucas pessoas deram importância. E, a grande maioria que viu, só se preocupou em dizer que o filme não estava à altura do diretor. A Última Noite, na minha opinião, serviu perfeitamente como um filme de despedida para o diretor. O enredo não poderia ser mais saudosista e o elenco entendeu completamente isso – todos os atores parecem extremamente sinceros e envolvidos por essa premissa. Quem pretende assistir, já tem que saber previamente que o filme quase não tem história e que narra, exclusivamente, o último dia de um programa de rádio. Por isso, A Última Noite é repleto de números musicais. Quem aprecia filmes assim, vai aprovar o resultado. Quem não se sente atraído, não deve tentar. Mas não custa dar uma chance, nem que seja para ver os atores em ótimos momentos (e dá para incluir até mesmo Lindsay Lohan) – em especial Meryl Streep e Lily Tomlin, iluminadas em uma excelente parceria.
FILME: 8.0

Se Beber, Não Case!, de Todd Phillips
Com Bradley Cooper, Ed Helms e Zach Galifianakis

De tanto que culturam esse filme, fui me afastando dele. Conferi por acaso e, realmente, não é essa preciosidade que tanto apontaram. Mas a verdade é que não dá para ignorar o guilty pleasure que esse sucesso é. Não existe nada de novo – é apenas uma reciclagem de vários fatores que tanto deram certo nesse tipo de história – e o filme não faz questão de esconder isso. Se Beber, Não Case!, no entanto, alcança ótimo resultado dentro de suas próprias limitações. O filme assumiu a sua identidade pastelão e abraçou a fórmula. Com isso, obtivemos um resultado bem divertido e satisfatório. Não é um filme que vá mudar a vida de alguém e muito menos merecer um Globo de Ouro, mas diverte bem mais que tantas comédias bestas que entram em cartaz.
FILME: 8.0

Os Fantasmas de Scrooge, de Robert Zemeckis
Com as vozes de Jim Carrey, Colin Firth e Gary Oldman

Não sei o que o diretor Robert Zemeckis viu nessa tecnologia que ele aplica desde que realizou O Expresso Polar. Parece que ele se deslumbrou demais com esse tipo de animação e nunca mais entregou um projeto à altura de seu nome. Mas se O Expresso Polar e A Lenda de Bewoulf até tinham seus atrativos, esse Os Fantasmas de Scrooge já parte para o aborrecido. Primeiro, esses contos de Natal já encheram o saco. É sempre a mesma ladainha: sempre tem algum rabugento que odeia a data mas que, no final das contas, vai aprender a amar o dia do Papai Noel da maneira mais enfadonha possível. O problema, contudo, é que Os Fantasmas de Scrooge não serve para as crianças. É dark, barulhento e arrastado demais – ou seja, a criança que não começar a chorar de susto vai começar a ficar impaciente. Mas também afasta os adultos, que não vão se envolver com uma história tão batida e rasa. Fica o recado para o senhor Zemeckis: hora de partir para outra.
FILME: 6.0
Cássio, a Bette Davis é perfeita, né?
Luis Galvão, eu acho “Assassinato em Gosford Park” extremamente superestimado!
Reinaldo, não sei se chega a ser tanto uma influência, mas me lembrou muito a Briony do filme de Joe Wright.
Kamila, é exatamente esse clima de melancolia e despedida que me conquistou em “A Última Noite”.
Vivi, concordamos sobre os dois filmes, então…
Cinebuteco, procure assistir “A Última Noite”, é bem legal…
Mayara, eu também não esperava gostar tanto de “À Deriva”. E achei a trilha fenomenal… Até porque esse é um setor em que os brasileiros não costumam acertar.
Dos que vi:
“À Deriva”: Gostei muito, esperava um filme bom, mas não imaginava gostar tanto. Belíssima trilha, coisa meio rara em filmes nacionais.
“A Vida de David Gale”: Vale pelo elenco, ótimo. Mas precisa de uma revisão minha.
“A Última Noite”: Uma bela despedida do Altman, um diretor que fazia como ninguém filmes que juntava ótimo elenco e resultar em uma produção de qualidade. E também, valeu por conferir um dos últimos bons papéis da carreira de Lindsay Lohan.
“Se Beber, Não Case!”: Esse filme é uma coisa de louco, um ótimo material de comédia, onde um fórmula meio gastada no cinema é bem aproveitada.
Gostei bastante de A Vida de David Gale, mas assim como você já faz um tempo que eu vi. Talvez se assistisse novamente, não acharia assim tão bom. À Deriva é um belo trabalho nacional, principalmente no que se refere a fotografia.
O filme que ainda quero ver é A Última Noite, porque é o último trabalho de Altaman, diretor que tenho muito apreço e além disso, tem Meryl Streep que é sempre um grande chamariz.
destes, adoro a vida de david gale e ri muito com se beber não case…já os outros infelizmente ainda não conferi…
bjokas,
vivi
p.s: tem promoção no cinefilando, vai lá:)
Comentando os que assisti:
À DERIVA: Para mim, um dos melhores filmes do ano passado. Adorei a maneira como a história se desenvolveu e, principalmente, o trabalho dos atores, especialmente Laura Neiva, Deborah Bloch e Vincent Cassel.
A VIDA DE DAVID GALE: Um filme cuja premissa poderia ter resultado num longa muito melhor do que realmente era. Mas, vale pelo elenco.
A ÚLTIMA NOITE: Gosto do filme, mas não acho uma obra extraordinária. Tem um senso de melancolia, uma sensação de despedida, confirmado por ser a última obra dirigida por Robert Altman.
SE BEBER, NÃO CASE: Adoro! E olha que eu, geralmente, nem gosto desses filmes com piadas sujas e sem graça. rsrsrsrsrs
OS FANTASMAS DE SCROOGE: Dos filmes feitos pelo Robert Zemeckis na nova técnica de captação de performances, para mim, esse é o melhor. Fora que a história tem uma mensagem muito legal.
Boas argumentações Matheus. Discordo de vc em dois pontos. Não acho que À deriva tenha referências de Desejo e reparação. Primeiro pela contemporaneidade de ambas as obras e segundo pq não enxergo esse poder de influência na obra de Joe Wright (que é muito boa, ressalto).
A segunda discordância compete à sua avaliação de Se beber não case. Concordo que o filme não mereça o Globo de ouro que recebeu, mas não acho que seja tão simples e formulaico quanto vc fez parecer. É um filme que areja sim a comédia americana e se afasta de algumas fórmulas cansativas que estavam sendo exploradas a exaustão.
ABS
Davis é minha atriz preferida de todos os tempos, dito isso, é fácil perceber o quanto eu gosto de ‘Perigosa’. Assim também me sinto com o trabalho do Dhalia, um achado do cinema nacional dos últimos tempos. E se ‘A Última Noite’ não é o melhor filme do Altman, com certeza é o que eu mais gosto de rever junto a ‘Prêt-à-Porter’ e ‘Gosford Park’.
Soberbas, cada uma das atuações desta grandiosíssima atriz!
Amo cada detalhe da humanidade de Bette Davis! Queria poder abraçá-la e agradecê-la pela quintessência de sua arte dedicada à posteridade!