Cinema e Argumento

“The Danish Girl”, a dose dupla de Eddie Redmayne?

Não foram todos que acreditaram que Eddie Redmayne venceria o Oscar de melhor ator por A Teoria de Tudo quando essa aposta já era uma das mais óbvias e coerentes da temporada do ano passado. Ninguém, no entanto, será louco de subestimar o jovem ator em 2016, ano em que ele, sem dúvida alguma, retornará à temporada de premiações com o drama The Danish Girl, dirigido por Tom Hooper. Aliás, se vencer o Oscar, será o primeiro ator a fazer uma dobradinha consecutiva desde Tom Hanks com FiladélfiaForrest Gump nos anos 1990.

Julgando pelo delicado e emocionante trailer liberado hoje, fica claro que isso pode não ser um exagero e que Redmayne tem tudo para surpreender ainda mais como Einar Wegener, supostamente o primeiro homem a fazer uma cirurgia de troca de sexo nos anos 1920. A prévia sugere que Redmayne realmente tem um grande talento para expressões corporais, algo que foi devidamente explorado na cinebiografia de Stephen Hawking.

Já fazendo carreiras em festivais mundiais (nas próximas semanas será exibido em Veneza e Toronto), The Danish Girl é mais um filme do desprezado Tom Hooper que deve chegar ao circuito de premiações. Lembrando que ele é o Midas da interpretação: em John Adams trouxe Emmys e Globos de Ouro para a dupla Laura Linney e Paul Giamatti, com O Discurso do Rei deu o Oscar a Colin Firth e por Os Miseráveis Anne Hathaway ganhou todas as distinções da temporada.

Gostando ou não, nunca subestime o britânico, seja por seu jeito tradicional de filmar ou pelo fato de The Danish Girl ser uma biografia. O longa tem estreia programada para o dia 27 de novembro nos Estados Unidos.

Contagem regressiva e um pouco de “Cold One”

Já estamos em contagem regressiva para o 43º Festival de Cinema de Gramado, onde, pelo quarto ano consecutivo, atuamos na equipe de assessoria de imprensa com a Pauta – Conexão e Conteúdo. Por isso, até lá, para acertar os últimos detalhes da cobertura do evento, o blog ficará inativo, voltando a partir do dia 07 de agosto com as últimas novidades deste que é o maior festival de cinema ininterrupto do Brasil. Enquanto isso, durante esse intervalo, deixamos como trilha sonora essa cena de Ricki and the Flash, que traz Meryl Streep cantando “Cold One”. Já amamos: sim ou com certeza? Até mais, queridos leitores! 

Um breve intervalo

intowildt

A temporada de premiações é de certa forma desgastante para quem escreve sobre ela e os filmes em competição. Depois de um bom tempo publicando posts quase diariamente aqui no blog para dar conta dessa coberta, nada mais justo do que tirar breves férias do mundo blogueiro para recarregar as baterias. Obviamente, continuarei a assistir filmes nesse período e, quando retornar, conto tudo a vocês, claro. Nos vemos muito em breve com novas críticas e a nossa tradicional premiação de melhores do ano.  Até lá! :)

O desabafo de Dianne Wiest (e o meu também)

Meryl Streep e Dianne Wiest em "Amor à Primeira Vista": envelhecer em Hollywood não é fácil. Por que uma já chega à 19ª indicação ao Oscar como um caso isolado e a segunda, a exemplo de tantas outras atrizes, não recebe nem papeis interessantes que possam pagar o aluguel?

Meryl Streep e Dianne Wiest em Amor à Primeira Vista: envelhecer em Hollywood não é nada fácil. Enquanto uma já comemora 19 indicações ao Oscar como um caso isolado, a outra, a exemplo de tantas atrizes, não recebe sequer papeis interessantes para pagar o aluguel.

Ontem circulou uma notícia envolvendo uma suposta crise financeira na vida da veterana Dianne Wiest. Vencedora de dois Oscars de atriz coadjuvante (um por Hannah e Suas Irmãs em 1987 e outro por Tiros na Broadway em 1994), Wiest revelou que tem problemas em pagar o aluguel de seu apartamento em Nova York e que em breve terá que se mudar dele. Como ela chegou até aqui ainda tendo que pagar aluguel e sem um apartamento em seu nome depois de uma carreira prolífera em década passadas  é um mistério, mas, brincadeiras à parte, a declaração da atriz evidencia algo muito sério. Algo que, inclusive, já foi constantemente evidenciado por Meryl Streep em várias entrevistas ao longo de sua carreira: envelhecer em Hollywood não é nada fácil para as mulheres. Na realidade, envelhecer não é fácil para qualquer pessoa nessa indústria.

Durante a cerimônia do Screen Actors Guild Awards no último domingo, debatia esse mesmo o assunto com um amigo, particularmente quando Debbie Reynolds recebia uma homenagem por sua carreira. Existe todo um respeito e carinho por atores em momentos como esse, mas, parando para pensar, é de certa forma triste ver tributo a determinados intérpretes. A homenagem por si só já significa algo próximo do fim de uma carreira (o que apenas o Globo de Ouro desmistificou lindamente anos atrás com o Cecil B. Demille para Jodie Foster), mas aí surgem os vídeos de retrospectiva e um lastimável fato se evidencia: aquelas são pessoas que vivem apenas de passado. A glória delas está lá. Não agora. Inexistem chances dignas para atrizes como Debbie Reynolds em Hollywood. E isso é revoltante. Não consigo imaginar experiência mais gratificante do que poder ver grandes e veteranas atrizes com papeis à altura. O que é o show de Judi Dench no recente Philomena, por exemplo? Ou a aula de sutilezas de Julie Christie em Longe Dela? Mas atrizes como elas, Maggie Smith, Helen Mirren ou Meryl Streep parecem casos raros e isolados nos dias de hoje. E mais: muitas delas são britânicas, significando que a Europa valoriza muito mais atrizes que envelheceram do que os Estados Unidos.

Voltando à situação de Wiest, ela afirmou, em entrevista ao The New York Times, que quase não recebe mais oportunidades no cinema e que é chamada para apenas um tipo de papel: o da mãe agradável. “E é isso, é tudo o que vem”, diz a atriz. Difícil saber o que é pior: a falta de papeis ou os personagens estereotipados e quase ofensivos oferecidas a grandes talentos (que, por diversas razões, compram as oportunidades). É infinita a lista de atrizes que mereciam muito mais do que recebem. Susan Sarandon virou a mãe dos protagonistas de comédias bobocas, Diane Keaton se firmou como a engraçadinha descolada de meia-idade também em filmes de gosto duvidoso, Vanessa Redgrave ruma em direção aos papeis figurantes que poderiam ser interpretados por qualquer outra pessoa de menor calibre (Foxcatcher, O Mordomo da Casa Branca), e por aí vai… Quando, claro, algumas simplesmente somem do mapa, aparecendo apenas eventualmente com pequenas participações em seriados ou filmes independentes lançados diretamente em home video. Nessa lista, podemos incluir Michelle Pfeiffer e Meg Ryan, por exemplo.

Esse assunto, no entanto, é apenas detalhe de uma crise muito maior enraizada em Hollywood. Observemos a temporada de premiações desse ano, onde a tensão está evidente e escancarada: das 20 interpretações indicadas ao Oscar, nenhuma vem de um ator negro. Dos 10 roteiros também indicados ao prêmio, nenhum é escrito por uma mulher. Quando resolvem compensar a situação, indicam Selma a melhor filme sendo que o longa só tem uma outra indicação de canção. Faz algum sentido além do cumprimento formal da culpa social? Não. O que dizer, então, das mulheres negras que já ganharam Oscar? Todas por papeis de escravas, empregadas, mães abusivas ou caricaturas. E o primeiro Oscar de direção entregue a uma mulher? Foi para Kathryn Bigelow, que realizou um filme de guerra essencialmente político e masculino. Uma Jane Campion ou uma Sofia Coppola da vida nunca ganhariam essa honraria.

Claro que as premiações são apenas reflexos de uma indústria que, muito mais do que estar despreocupada com o protagonismo de negros e mulheres, não se empenha em dar atenção para atores que envelhecem e que contribuíram tanto para o cinema. São problemas já de décadas em Hollywood e não é à toa que todos estão debandando para o mundo dos seriados, que hoje estuda a família moderna (não aquele clichê de Modern Family, mas  sim a moderna mesmo, composta por um pai travesti e uma filha lésbica, como vemos em Transparent), que dá uma luz no fim do túnel para atores esquecidos pelo cinema (mais anteriormente vimos Glenn Close em Damages e Sally Field em Brothers & Sisters) e que traz negras como protagonistas em papeis atípicos (a advogada sexualizada, forte e misteriosa de Viola Davis em How to Get Away With Murder). Se na TV sobra espaço para gays, mulheres e negros, comprovando a total superioridade deste formato em relação ao cinema, na tela grande falta vergonhosamente. Mas, para além de igualdade, está faltando respeito em Hollywood. Intérpretes de pura excelência como Dianne Wiest não devem ficar sem dinheiro para o aluguel. E muito menos sem trabalhos dignos.

O mesmo blog, um novo visual

Ok, confesso: sou um pouco neofóbico. Um pouco não. Muito, eu diria. Sempre fui resistente a mudanças. Em tudo. Inclusive no que se refere a minha própria vida, seja ela pessoal ou profissional. Por isso foi muito difícil tomar a decisão de, após sete anos, dar uma repaginada no visual do Cinema e Argumento. Foi difícil porque eu não queria perder a identidade do blog, parecer um endereço completamente diferente ou abandonar o estilo com que eu tanto me acostumei ao longo do tempo.

Ontem, quando fechei o blog para escolher um novo layout, pensei que seria uma jornada longa e cansativa – afinal, sou meio obsessivo com detalhes. Para minha própria surpresa – e espero que isto também signifique um certo desapego com a mania de não gostar de mudanças – tudo ocorreu de forma bastante rápida e natural. Não doeu como eu achei que doeria. Creio que, nesta mudança, encontrei um meio-termo bastante positivo entre manter o que eu considerava ser a identidade visual do Cinema e Argumento e trazer novos elementos.

Não sei quanto a vocês (espero que possam me iluminar melhor esta questão!), mas acho que, com as escolhas tomadas, consegui deixar o blog um pouco mais contemporâneo e atraente. Primordial foi a ocupação de mais espaço (o layout anterior parecia ser bastante menor e com muitos espaços em branco) ou, então, a maior presença da nossa cor principal sempre discreta (o verde) e o aumento do destaque de importantes elementos que conduzem a leitura como os títulos. Marcando a mudança, também coloquei, nas letras, uma tonalidade mais forte se comparada aos posts anteriores para os escritos que virão daqui para a frente.

O que também me surpreendeu nesta jornada de repaginação foi a escolha do novo banner, que se deu com bastante naturalidade. Não esperava que fosse me apaixonar logo de cara por mais este excelente trabalho do meu amigo de longa data Márcio Ramos, que sempre assinou os banners aqui do blog. Mas tudo foi certeiro. Escolhi filmes que têm alguma conexão pessoal comigo mas também belas imagens para dar qualidade visual à montagem. Espero que, nessa positiva renovação sem maiores obstáculos, existam acertos que agradem também a vocês, leitores. Afinal, não teria chegado até aqui e pensado em mudar se não fosse por cada um de vocês. Um abraço e, por favor, me contem suas opiniões sobre as mudanças! Seguimos em frente.