Filmes em DVD

[REC], de Jaume Balagueró e Paco Plaza
Com Manuela Velasco, Feran Terraza e Pablo Rosso

O cinema falado em espanhol vem se especializando em filmes de suspense. Depois de O Orfanato, [REC] aterrorizou muita gente no cinema. Não é pra menos, o filme da dupla Jaume Balagueró e Paco Plaza é extramente tenso do início ao fim, com sustos constantes e cenas perturbadoras. A ideia não é lá muito original – existem milhares filmes de zumbis por aí – mas a produção é tão bem arquitetada em seu suspense, que fica impossível resistir ao excelente resultado. Tem gente que vai reclamar do final, que tem um quê de inconclusão derivado de A Bruxa de Blair, e da estrutura convencional – pessoas gritando pra todos os lados, sangue, barulhos estrondosos. Mas eu pergunto: quem se importa com isso quando temos um suspense exemplar se desenvolvendo diante de nossos olhos?
FILME: 8.5

Psicose, de Alfred Hitchcock
Com Anthony Perkins, Janet Leigh e Vera Miles

Gus Van Sant estragou completamente a minha recepção com esse clássico de Alfred Hitchcock. Não que eu tenha desaprovado o resultado, o problema é que eu já sabia de tudo o que acontecia e assisti o longa sem qualquer surpresa ou suspense. Todo mundo sabe que a refilmagem de Gus Van Sant é uma coisa pavorosa – aliás, eu acho que devia ser proibido a refilmagem de clássicos do cinema – mas é fácil entrar no clima do ótimo filme de Hitchcock. Primeiro porque o filme em si já tem grande impacto visual em todos os aspectos, desde os atores bem fotografados e as cenas dirigidas excepcionalmente, sem falar da memorável trilha de Bernard Herrmann. Psicose é um clássico com todos méritos possíveis e sem dúvida alguma é uma obra obrigatória. Só aconselho que ninguém faça a mesma coisa que eu, assistir a refilmagem antes. Porque, ao menos pra mim, o original não fluiu da maneira que deveria por causa de um certo impostor chamado Gus Van Sant.
FILME: 8.0

Entre Quatro Paredes, de Todd Field (revisto)
Com Tom Wilkinson, Sissy Spacek e Marisa Tomei

Todd Field tem só dois filmes no seu currículo e já é um sujeito bem respeitado. Seu estilo me agrada bastante – criar dramas dentro das casas da cidade, com pessoas banais e que anseiam por um futuro melhor. Entre Quatro Paredes é um filme essencialmente de atuação e roteiro, não vai muito além disso. Talvez seja por esse motivo que ele não chegue a me encantar tanto como deveria. Contudo, os atores e o roteiro suprem essa falta de maiores surpresas do longa. Os protagonistas (Sissy Spacek e Tom Wilkinson), ambos indicados ao Oscar, entregam atuações espetaculares e conferem grande humanidade para o casal de pais que acaba de perder o filho. Já a coadjuvante Marisa Tomei não é tão interessante, já que seu papel não ganha maiores dimensões. Um pouco longo e sem ritmo, Entre Quatro Paredes prima por tratar de um tema complicado com grande habilidade dramática, sem cair nos exageros ou ficar na qualidade rasa. Uma produção interessante e que vai agradar os que gostam desse estilo de filme.
FILME: 8.0

Um Grito no Escuro, de Fred Schepisi
Com Meryl Streep, Sam Neill e David Hoflin

A interpretação de Meryl Streep nesse filme rendeu para a atriz o prêmio de melhor atriz em Cannes, além de mais uma indicação ao Oscar. Aqui ela interpreta uma mulher que tem que provar na justiça que não assassinou a própria filha. Um filme comum de tribunal e sobre a jornada de uma família tentando provar inocência, mas que instiga o espectador a torcer por eles. Ou não, já que um imenso público na história acredita que ela é culpada. O grande mérito do diretor Fred Schepisi é não deixar claro a cena da morte da garota. O espectador não sabe muito bem o que acontece e também pode ficar com um pé atrás em relação a protagonista. Um Grito no Escuro é um filme simples, mas que funciona em todos os seus setores.
FILME: 8.0

Nossa Vida Sem Grace, de James C. Strouse
Com John Cusack, Alessandro Nivola e Emily Churchill

Tenho certa resistência com dramas sobre perdas que não investem toda sua alma na dramaticidade. Nossa Vida Sem Grace tem momentos melancólicos, mas nunca chega a ser suficientemente interessante em suas tristezas. O resultado, então, nunca passa do aceitável, formando uma sessão apenas satisfatória e que não deixa marcas. A boa trilha de Clint Eastwood – uma das suas melhores como compositor – confere ao filme um bom clima. No entanto, é a performance de John Cusack que dá alma para Nossa Vida Sem Grace, filme que ganharia muito mais se trabalhasse de forma mais dolorosa a história que desenvolve.
FILME: 7.5
Filmes em DVD

Um Beijo a Mais, de Tony Goldwyn
Com Zach Braff, Casey Affleck e Tom Wilkinson

Não esperava absolutamente nada desse Um Beijo a Mais. Aliás, a propaganda que foi feita dele acusa um longa cômico e banal. Não é verdade. Apreciei bastante o tom maduro que a história apresentou sobre os relacionamentos e mais ainda como os atores expressaram isso. Não muito o protagonista Zach Braff (que está bem melhor em Hora de Voltar), mas nos coadjuvantes como Casey Affleck e Tom Wilkinson. Um Beijo a Mais é formado por vários acertos, especialmente na excelente trilha sonora (que vai desde Coldplay até Snow Patrol). no roteiro e no elenco. É certo que a direção erra em alguns momentos – alguns personagens soam completamente deslocados ou inuteis – mas consegui perdoar tudo. O longa definitivamente me conquistou.
FILME: 8.5

Na Mira do Chefe, de Martin McDonagh
Com Colin Farrell, Brendan Gleeson e Ralph Fiennes

É uma grata surpresa esse filme que foi divulgado da maneira errada. Desde as indicações para comédia no Globo de Ouro até o pôster com tom excêntrico dão a idéia errada sobre a produção. Na Mira do Chefe tem humor inteligente mas é essencialmente um longa sobre paranóias e frustrações. O clima da cidade de Bruges só colabora para a boa ambientação da história, que é muito bem escrita e não desaponta em suas resoluções. O elenco é outro achado, em especial a dupla Farrell-Gleeson. O primeiro, inclusive, merecendo mais uma indicação ao Oscar de ator do que o indicado Brad Pitt.
FILME: 8.0

Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas
Com Sandra Corveloni, Vinicius de Oliveira e José Geraldo Rodrigues
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Linha de Passe que consegue fazer um relato sobre problemas sociais sem sequer apelar para as habituais estéticas que estamos acostumados a ver. Vencedor da Palma de Ouro de melhor atriz em Cannes, para Sandra Corveloni, o filme encontra a sua maior força na segura direção de Walter Salles e Daniela Thomas. Ambos sabem os limites dos tons dramáticos, não apostando nos habituais clichês do gênero. O drama de Linha de Passe é inteligente, mesmo que simples em sua proposta inicial. As histórias são bem conduzidas e os acontecimentos idem, resultando em um longa acessível e que também é, ao mesmo tempo, subjetivo em suas entrelinhas. Representado de forma impecável pelos atores, é um dos exemplares mais interessantes que o cinema brasileiro produziu nos últimos anos. Só necessitava ser mais inteligente, e não apenas diferente.
FILME: 8.0

Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão, de Woody Allen
Com Woody Allen, Mia Farrow e Tony Roberts
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Mais uma comédia de Woody Allen sobre relacionamentos. E uma das melhores, por sinal. Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão pode até ser bem simples na sua trama principal (um troca-troca de casais no dia que antecede um casamento), mas tudo é tão bem realizado comicamente, que fica muito fácil perdoar alguns deslizes do roteiro. Temos vários diálogos interessantes e inteligentes como de costume, e Woody Allen realiza um longa bem divertido, acessível em toda a sua essência. Longe de ser erótico como título aponta, o filme acerta bastante, conseguindo representar um dos melhores momentos de Allen falando sobre amores e desamores.
FILME: 8.0

Os Reis do Iê-Iê-Iê, de Richard Lester
Com John Lennon, George Harrison e Paul McCartney

Ser fã dos Beatles faz uma enorme diferença aqui. Se em Across The Universe não era necessário conhecê-los, em Os Reis do Iê-Iê-Iê é fundamental ter conhecimento prévio sobre o grupo musical. Simplesmente porque o filme de Richard Lester quase não tem história e soa mais como um veículo de divulgação da banda. Não há muito o que falar do filme, que é um conjunto de situações engraçadas, humor e música com John Lennon, George Harrison, Paul McCartney e Ringo Starr. Quem é fã, possivelmente vai se divertir mais do que quem não é. Afinal, Os Reis do Iê-Iê-Iê não é bem cinema.
FILME: 7.5

A Casa do Fim do Mundo, de Michael Mayer
Com Colin Farrell, Robin Wright Penn e Sissy Spacek
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Michael Cunnigham é um grande escritor. Quem leu As Horas sabe bem disso. Mas ele não funciona como roteirista. Isso fica claro em A Casa do Fim do Mundo, que merecia um tratamento mais melancólico e dramático do que o apresentado por Cunnigham. A história é aparentemente simples: dois rapazes se conhecem na adolescência, compartilham alguns momentos homossexuais e já adultos vão formar um triângulo amoroso com uma garota que gosta dos dois. Se o filme começa maravilhosamente bem (a parte da infância e da adolescência é conduzida com boa dramaticidade e até mesmo com comédia, com destaque para uma divertida Sissy Spacek), vai diminuindo sua qualidade aos poucos. Mas nunca chega a ser ruim. A Casa do Fim do Mundo se sairia melhor com uma narrativa mais sentimental e não um tanto superficial como essa, onde a emoção só aparece por causa do bom elenco reunido.
FILME: 7.0

Deu a Louca em Hollywood, de Jasoen Friedberg e Aaron Seltzer
Com Jayma Mays, Kal Penn e Jennifer Coolidge
É, deu mesmo a louca em Hollywood. Só isso para explicar tamanha ridicularidade desse filme. Eu poderia ficar aqui apontando milhões de coisas péssimas na produção, mas a única coisa que se existe pra dizer é que ele é ruim mesmo. Piadas sem graça, sátiras mal feitas, cenas apelativas e momentos de péssimo gosto. Deu a Louca Em Hollywood é uma grande tragédia. Todo Mundo Em Pânico podia até não ser nenhuma maravilha, mas ao menos conseguia ser um bom guilty pleasure; já essas novas sátiras do cinema nem isso conseguem ser. O que há para se considerar nesse filme? Sem dúvida a boa direção de arte (que nos ajuda a identificar os filmes satirizados facilmente) e uma protagonista aceitável (Jayma Mays) e com um tom comicamente imbecil como a Anna Farris em Todo Mundo Em Pânico. O resto, triste de se assistir. Até onde a mente humana pode ir, hein? O pior é que com certeza você conhece alguém que se divertiria com esse filme, não é verdade?
FILME: 1.0
Filmes em DVD

Ensaio Sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles (revisto)

Não mudou muita coisa assistir Ensaio Sobre a Cegueira na telinha. O filme continua excelente. É uma pena que essa cuidadosa produção de Fernando Meirelles tenha tido uma recepção tão fria, tão inferior do que realmente merecia. Dessa vez fiquei mais satisfeito com a interpretação da Julianne Moore, que é uma atriz de respeito e que aqui tem um desempenho exemplar – mesmo que não seja nem de perto um de seus melhores. Ensaio Sobre a Cegueira é para poucos, com uma estética ousada e uma história difícil. Isso afasta o público. Mas nada justifica a má vontade dos especialistas com ele. O filme tem grandes aspectos sim e foi um dos melhores do ano de 2008.
FILME: 8.5

Batman – O Caveiro das Trevas, de Christopher Nolan (revisto)

O filme continua o mesmo, mas infelizmente perde metade de seu impacto na TV. Sorte teve quem assistiu o longa no cinema, onde podia-se notar melhor o estupendo espetáculo auditivo e as ótimas cenas de ação. De qualquer forma, Heath Ledger permanece impecável e assustados; o longa, maduro e sério. Apesar de todos os elogios, Batman – O Cavaleiro das Trevas tem sim alguns defeitos. Critico o roteiro – sim, adulto, mas ainda assim longo demais e com tramas que não precisavam ser exploradas aqui (Harvey Dent se transformando em Duas-Caras, por exemplo, ficou muito superficial). Contudo, permanece como uma grande evolução no mundo das adaptações de quadrinhos.
FILME: 8.5

A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz
Com Bette Davis, Anne Baxter e George Sanders

A Malvada é um luxuoso retrato sobre os bastidores do teatro e sobre como é a convivência das estrelas nessa arte. Recordista de indicações ao Oscar, o filme de Joseph L. Mankiewicz exala competência em todos os setores, especialmente na notável qualidade de atores que conseguiu reunir. A estrela, sem dúvida, é a perfeita Bette Davis como Margo Channing. Anne Baxter, como Eve Harrington, não fica atrás. É surpreendente a reviravolta envolvendo a personagem de Eve e o roteiro deixa tudo muito explícito, bem processado. Nada parece solto ou sem conexão. Por ser um filme tão bem cuidado, A Malvada se tornou um marco no cinema. E com todos os méritos.
FILME: 8.5

Alô, Dolly!, de Gene Kelly
Com Barbra Streisand, Walter Matthau e Michael Crawford

É a direção do competente diretor Gene Kelly (do clássico Cantando Na Chuva) que confere qualidade a esse pouco musical pouco conhecido chamado Alô, Dolly!, que recentemente recebeu maior conhecimento por ser a principal diversão do robozinho WALL-E. Porque, realmente, o filme não é grande coisa, tendo algumas visíveis falhas – tem uma história simples demais para ser tão comprido e seu desenvolvimento é previsível. Mas Alô, Dolly! funciona. Os números musicais são impecáveis, alguns até mesmo empolgantes. E as vozes que ouvimos são extremamente adequadas, com destaque para uma inspirada Barbra Streisand. Encerrado com uma linda música chamada It Only Takes a Moment, Alô, Dolly! pode até não ser uma maravilha, mas entretem e é excelente como musical.
FILME: 8.0

O Rio do Desespero, de Mark Rydell
Com Sissy Spacek, Mel Gibson e Scott Glenn

O Rio do Desespero deu mais uma indicação ao Oscar de melhor atriz para a ótima Sissy Spacek. Ela é uma das poucas razões que fazem com que o filme de Mark Rydell seja assistido, porque, no final das contas, o resultado não é grande coisa. O longa apenas narra a batalha de uma família para manter a sua fazenda depois de um rio inundar toda a propriedade. Além disso, ainda vão ter que enfrentar os políticos que querem acabar com a fazenda para realizar uma construção. Dotado de uma narrativa sem surpresas ou momentos dramáticos que marquem, O Rio do Desespero é simples e até efetivo, mas não chega a empolgar.
FILME: 7.0

O Passado, de Hector Babenco
Com Gael García Bernal, Analía Couceyro e Paulo Autran

Realmente não é grande coisa esse trabalho de Hector Babenco. A história podia ser trabalhada de outr maneira (mais sentimenal ou mais humana, quem sabe?) e o roteiro tem várias passagens desnecessárias, especialmente quando se encaminha pro final. Erros à parte, O Passado é um filme bem cuidadoso em sua estética, com os atores bem fotografados e com situações interessante. Dá pra se assistir tranquilamente, sem grandes reclamações. É até possível se envolver com a história e com o protagonista, interpretado por Gael García Bernal em um excelente momento. O filme tem até um toque melancólico, exaltado pela bonita trilha sonora de Ivan Wyszogrod. Simples, mas eficiente.
FILME: 7.0

Um Verão Para Toda Vida, de Rod Hardy
Com Daniel Radcliffe, Lee Cormie e James Fraser

Não dá pra culpar totalmente Daniel Radcliffe por sua péssima atuação em Um Verão Para Toda Vida. Que ele é péssimo isso não é novidade (sempre tentando provar – inutilmente – que é bom ator, inclusive protagonizando a polêmica peça de teatro chamado Equus), mas foi uma jogada horrível dos produtores da fita o terem colocado no filme. Não inteiramente pelo fato da atuação, mas simplesmente porque ele não se encaixa – é grande demais para o papel (para se ter uma idéia, Freddie Highmore era o contratado original). Mas de qualquer forma, Um Verão Para Toda Vida é ruim em todo o conjunto. Consegue o feito de não despertar interesse algum, com uma trama simplista e sem atrativos. Assim é difícil ter boa vontade com um longa que também exige inocência demais do espectador ao trabalhar dramas baratos. Se vale alguma coisa, ao menos o filme é bem cuidado, com uma trilha sonora adequada e boas locações. Mas isso não basta. E Radcliffe não ajuda em nada.
FILME: 4.0
Filmes em DVD

Desejo e Reparação, de Joe Wright (revisto)
Com Keira Knightley, James McAvoy e Saoirse Ronan
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Apesar de Desejo e Reparação não ser mais o meu filme favorito do ano, continua sendo o mais belo e poético. Cada vez que tenho a oportunidade de rever esse longa, fico cada vez mais encantado com a impecável produção – desde a bela direção de arte, a linda fotografia e os elegantes figurinos. Sem falar da perfeita trilha sonora do Dario Marianelli (o Oscar não foi um prêmio de consolação). Continuo tendo um certo problema com o segundo ato, quando Robbie (James McAvoy, evoluindo a cada trabalho) vai para a guerra, que é quando o roteiro perde o seu ritmo; mas é igualmente apreciável, especialmente por causa da seqüência sem cortes que o diretor Joe Wright fez mostrando os horrores da guerra. Alguém me explica como ele não foi indicado a melhor diretor e Jason Reitman foi?! O elenco é um acerto e todas as atrizes que interpretam Briony Tallis – a revelação Saoirse Ronan, a ótima Romola Garai e a veterana Vanessa Redgrave – deixaram grande marcas. Com um final surpreendentemente emocionante (ao menos para mim, que não tinha conhecimento da obra de Ian McEwan), Desejo e Reparação pode ser considerado um filme ultrapassado e formulaico para muitos. Eu vi uma obra brilhante e linda, que merecia um pouquinho mais de reconhecimento do público.
FILME: 9.0

Onde Os Fracos Não Têm Vez, de Joel e Ethan Coen (revisto)
Com Josh Brolin, Javier Bardem e Tommy Lee Jones
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O grande vencedor do Oscar desse ano é um filme extremamente eficiente – envolve, cria tensão e é ágil em sua narrativa. Mas, por alguma razão, não é memorável e não deixa maiores impressões depois da sessão. Principalmente se comparado com os seus outros concorrentes no Oscar. Por isso, muita gente estranhou que a Academia tenha premiado um filme tão diferente como esse. Onde Os Fracos Não Têm Vez parece um filme sem mensagem, mas não é; ela está implícita, é um estudo sobre a violência e seus limites. Basta prestar bem a atenção para perceber. Cru e seco, o longa dos irmãos Coen é um belo exercício de tensão e uma grata surpresa desse ano. Muito bem produzido e com um ar de produção independente, tem inúmeros aspectos positivos, como a bela montagem e a fotografia. Mas existe algo que brilha mais do que tudo. E esse algo é a marcante interpretação do espanhol Javier Bardem (o grande vencedor de prêmios da temporada), enigmático e literalmente um vilão de dar medo. Nem Heath Ledger conseguiu ser mais vilão do que ele.
FILME: 8.5

O Auto da Compadecida, de Guel Arraes
Com Matheus Nachtergaele, Selton Mello e Fernanda Montenegro
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Baseado no texto do escritor Ariano Suassuna, O Auto da Compadecida é um dos maiores sucessos do cinema brasileiro – até porque já foi reprisado exaustivamente na televisão. Eu nunca havia conferido o longa, portanto, estava livre daqueles preconceitos que se criam em torno dessas obras irritantementes repetidas na telinha. Acabei me divertindo bastante o resultado, que tem praticamente toda a sua excelência calcada no talento de seus atores e na inteligência dos rápidos diálogos. A direção de arte é outro excelente ponto de O Auto da Compadecida, auxiliando na ótima comédia que é apresentada para o espectador. Pena que a Fernanda Montenegro só vá aparecer nos últimos atos (que são os mais fracos), com uma participação não muito marcante. De qualquer forma, é um longa a ser apreciado.
FILME: 8.0

Do Luto à Luta, de Evaldo Mocarzel
Documentário
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As pessoas portadoras da síndrome de down são e sempre foram vítimas do preconceito. O documentário Do Luto à Luta, consagrado com o prêmio especial do júri no festival de Gramado, não se preocupa em dissecar os dramas que essas pessoas vivem e muito menos em apelar para emoções baratas. O longa quer mostrar que, mesmo com tantos problemas, existe esperança para essas pessoas e que as dificuldades são meros obstáculos – elas podem dançar, estudar, andar a cavalo, transar e namorar. Basta ter empenho. Nesse sentido, Do Luto à Luta é um belo retrato sobre a humanidade dos portadores da síndrome de down e os envolvidos (principalmente os pais). Como cinema, o filme não foge daqueles principais problemas que tanto me incomodam em documentários, especialmente a repetição à exaustão do tema. Porém, o filme tem em seu benefício uma curta duração e um tema interessante.
FILME: 7.5

Minha Adorável Lavanderia, de Stephen Frears
Com Gordon Warnecke, Daniel Day-Lewis e Rita Wolf
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Primeiro filme do diretor Stephen Frears (um dos meus favoritos) que não conseguiu me cativar em nenhum momento. Acho que o principal erro de Minha Adorável Lavanderia está em seu roteiro, que não parece se decidir muito bem em sua proposta. Ele tenta criar uma história de amor homossexual ao mesmo tempo em que trabalha o cotidiano de uma família oriental e o grande empenho de um garoto para tentar ser independente no mundo dos negócios. As situações são milimetricamente divididas e fica difícil entender qual a principal trama da história. Contudo, Frears conduz todo o longa de forma competente como sempre, mantendo o interesse e a agilidade da trama. O destaque fica com a dupla Gordon Warnecke e Daniel Day-Lewis, ambos dando muita verossimilhança aos seus personagens.
FILME: 7.5

Se Eu Fosse a Minha Mãe, de Gary Nelson
Com Jodie Foster, Barbara Harris e John Astin
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Esse é o filme que deu origem para o recente Sexta-Feira Muito Louca, com Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis. As produções são bem diferentes, e a nova versão se deu a liberdade de inventar coisas que não existiam nesse original. Se Eu Fosse a Minha Mãe é uma comédia muito sincera com aquela velha premissa que todo mundo conhece sobre uma mãe que troca de corpo com a filha durante um dia inteiro. Jodie Foster, muito jovem e em início de carreira, é a protagonista; e desde já mostrava grande talento e simpatia (seu trabalho até lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz comédia/musical). Barbara Harris, como a mãe, não fica nem um pouco atrás, brilhante. O filme de Gary Nelson não traz nada de novo e nem vai fazer o espectador dar risadas, mas cada minuto é de uma humildade única, tudo singelo e nostálgico. Para a época, devia ter sido uma bela diversão. Destaque para a música de abertura, I’d Like To Be You For a Day.
FILME: 7.5

Sobre Café e Cigarros, de Jim Jarmusch
Com Cate Blanchett, Bill Murray e Alfred Molina
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União de vários curtas de mesmo tema bem ao estilo de Paris, Te Amo, só que em menor quantidade que o longa francês. São eles: Strange To Meet You, Twins, Those Things’ll Kill Ya, Jack Shows Meg His Tesla Coil, Somewhere In California, Renée, No Problem, Cousins, Cousins?, Delirium e Champagne. O diretor Jim Jarmusch é uma pessoa estranho – metido a cult, realiza longas sempre do mesmo estilo. Eu, que não gostei de Flores Partidas, não esperava muita coisa desse Sobre Café e Cigarros. O resultado é até interessante, pena que a proposta não foi tratado com originalidade. Era pra ser uma coletânea de histórias sobre pessoas conversando diversos assuntos enquanto tomam café e fumam cigarros em cafeterias. Certas histórias funcionam só por causa dos atores – é o caso de Delirium, com Bill Murray – e outras funcionam também por causa do roteiro. Destaco bastante Cousins, com Cate Blanchett inspiradíssima contracenando com ela mesma e Cousins? onde Alfred Molina interpreta… Alfred Molina! Sobre Café e Cigarros tem todos aquele clima “quero ser cult” de Jim Jarmusch, que até fotografia preto-e-branco resolveu usar! E aqui o clima funciona. É uma boa diversão, e só. Para um público bem seleto.
FILME: 7.0
Encontros do Destino

Encontros do Destino, de Rose Troche
Com Glenn Close, Patricia Clarkson e Dermot Mulroney
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É complicado quando um filme tenta reproduzir um estilo de narrativa e não consegue. Encontros do Destino quer contar histórias de famílias problemáticas que se unem em determinados instantes do roteiro. Pena que faz isso de forma relaxada e desperdiça bons nomes do elenco. A figura mais interessante é a ótima Glenn Close, que vive uma mãe que tem que lidar com o filho adolescente inválido que sofreu um grave acidente de carro. Esse filho estava mantendo um namoro com a personagem da Patricia Clarkson, uma mãe separada que tem dificuldade em criar os filhos. Esse fato só vai ser revelado na metade do longa e tenta unir as personagens. Mas nada acontece de verdade e essas conexões são meras citações do roteiro – em instante algum vamos ver uma concreta interação entre as duas personagens. Portanto, essa narrativa de conexão ao estilo de Crash e Babel é uma grande bobagem que foi formulada de forma boba. Felizmente, as histórias de Glenn e Patricia funcionam muito bem individualmente. Os dramas delas são trabalhados de forma digna, principalmente quando temos duas excelentes atrizes como elas representando. O elenco também tem outros nomes conhecidos do público, como Dermot Mulroney e Kristen Stewart.
O roteiro faz questão de unir humor (existe um certo garotinho que se vê apaixonado por uma boneca, que constantemente está falando com ele) e típicos dramas urbanos (como o casal que tem constantes problemas de relacionamento). Poderia ser uma mistura do humor caseiro de Desperate Housewives com as angústias que o diretor Todd Field imprimiu em seus dois longas, Entre Quatro Paredes e Pecados Íntimos. Mas não é. O filme exala banalidade e não consegue escapar daqueles desenvolvimentos que já estamos cansados de assistir em produções pequenas e que não fazem sucesso como essa. De forma alguma Encontros do Destino pode ser considerado um longa-metragem ruim, já que eu até acredito (e aceito) que algumas pessoas podem sim gostar de seu resultado. O problema é que o filme não cativa, parecendo totalmente satisfeito com a banalidade que está apresentando ao espectador. A força, então, resume-se na presença de Glenn Close e Patricia Clarkson. Duas ótimas atrizes em momentos que podem ser considerados até mesmo iluminados. O resto… É resto.
FILME: 6.0