53º Festival de Cinema de Gramado #11: “Cinco Tipos de Medo” leva o Kikito de melhor filme em consagração coesa do cinema mato-grossense

Time de vencedores do 53º Festival de Cinema de Gramado. Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto.

Além da própria curadoria, os júris recentes do Festival de Cinema de Gramado têm se mostrado atentos a cinematografias diversas e descentralizadas. Após consagrações como as do acreano Noites Alienígenas e do goiano Oeste Outra Vez, o evento serrano agora adiciona Cinco Tipos de Medo, do Mato Grosso, ao seu rol de grandes vencedores. No filme de Bruno Bini, vidas aparentemente desconectadas colidem num caminho sem volta, formando um mosaico intrincado e violento de diversas cicatrizes urbanas. Somam-se ao Kikito de melhor filme os prêmios de melhor roteiro, montagem e ator coadjuvante para Xamã, demonstrando grande coesão por parte do júri, ao contrário do que vimos na premiação de curtas-metragens, por exemplo, onde os vencedores das categorias de melhor filme não triunfavam em nenhum outro segmento. À parte meu distanciamento com Cinco Tipos de Medo, reconheço o marco de uma nova consagração para o cinema descentralizado no Brasil, a lógica de premiá-lo dada a recepção no festival e seu tom mais denso e ambicioso. Não há como negar que o longa de Bruno Bini encerrou a mostra competitiva fazendo barulho.

Por outro lado, o júri formado pelo ator Edson Celulari, pela atriz Isabel Fillardis e pelos cineastas Sergio Rezende, Fernanda Lomba e Petrus Cariry repete uma tendência que costuma me incomodar: a de garantir que todos os filmes em competição saiam da cerimônia de premiação com pelo menos um reconhecimento, mesmo que o risco seja de parecer uma espécie de consolação. É o que parece ter acontecido com o Querido Mundo, de Miguel Falabella, que conquistou o prêmio de melhor atriz para Malu Galli quando outras concorrentes muito mais fortes eram tidas como favoritas ao prêmio (caso da maravilhosa Saravy em ), e especialmente com a tragicomédia Sonhar com Leões, de Paolo Marinou-Blanco, que levou para casa somente uma protocolar menção honrosa. No caso desse segundo filme, entendo que as provocações cômicas com temas tão sérios possam ter sido espinhosas demais para algumas plateias. Por fim, também achei pouco o reconhecimento para o belo A Natureza das Coisas Invisíveis, que merecia algum reconhecimento entre as categorias principais tamanha a sua delicadeza.

Entre os vencedores da mostra Sedac/Iecine de longas-metragens gaúchos, destaco aquele que foi o meu maior estranhamento entre as premiações do 53º Festival de Cinema de Gramado. Afinal, como pode um filme ter a melhor direção, o melhor roteiro e a melhor montagem, mas simplesmente não ser o melhor… filme? Foi o que aconteceu com Uma em Mil, um documentário muito pessoal e bem executado de Jonathas e Tiago Rubert, que retrata sua vida em família — marcada pela experiência de um deles com a Síndrome de Down. Quem acabou levando o Kikito de melhor longa-metragem gaúcho foi o também documentário Quando a Gente Menina Cresce, da cidade de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Acontece que a graça e a simpatia do filme, bem como a sensibilidade em tratar de peito aberto sobre o início do ciclo menstrual na vida de um grupo de meninas, não me parece o suficiente para desbancar os tantos destaques que o próprio júri formado por Daniel Rodrigues, Gabrielle Fleck e Keity Souza reconheceram em Uma em Mil. Particularmente, fico com outro concorrente: o ótimo Rua do Pescador Nº 6, que poderia ter saído da cerimônia com mais prêmios do que de fato recebeu.

Confira abaixo a lista completa de vencedores nas mostras de longas-metragens:

LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS

MELHOR FILME: Cinco Tipos de Medo, de Bruno Bini
MELHOR DIREÇÃO: Laís Melo ()
MELHOR ATRIZ:  Malu Galli (Querido Mundo)
MELHOR ATOR: Gero Camilo (Papagaios)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Aline Marta Maria (A Natureza das Coisas Invisíveis)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Xamã (Cinco Tipos de Medo)
MELHOR ROTEIRO: Bruno Bini (Cinco Tipos de Medo)
MELHOR FOTOGRAFIA: Renata Corrêa ()
MELHOR MONTAGEM: Bruno Bini (Cinco Tipos de Medo)
MELHOR TRILHA MUSICAL: Alekos Vuskovic (A Natureza das Coisas Invisíveis)
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Elsa Romero (Papagaios)
MELHOR DESENHO DE SOM: Bernardo Uzeda, Thiago Sobral e Damião Lopes (Papagaios)
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI: A Natureza das Coisas Invisíveis, de Rafaela Camelo
MENÇÃO HONROSA: Sonhar com Leões, de Paolo Marinou-Blanco
MELHOR FILME – JÚRI POPULAR: Papagaios, de Douglas Soares
MELHOR FILME – JÚRI DA CRÍTICA: , de Laís Melo
MELHOR LONGA DOCUMENTÁRIO: Lendo o Mundo, de Catherine Murphy e Iris de Oliveira
MENÇÃO HONROSA – DOCUMENTÁRIO: Para Vigo Me Voy!, de Lírio Ferreira e Karen Harley

MOSTRA SEDAC/IECINE DE LONGAS GAÚCHOS

MELHOR FILME: Quando a Gente Menina Cresce, de Neli Mombelli
MELHOR DIREÇÃO: Jonatas e Tiago Rubert (Uma em Mil)
MELHOR ATRIZ: Lara Tremouroux (Passaporte Memória)
MELHOR ATOR: Stephane Brodt (Passaporte Memória)
MELHOR ROTEIRO: Jonatas e Tiago Rubert (Uma em Mil)
MELHOR FOTOGRAFIA: Bruno Polidoro (Bicho Monstro)
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Gabriela Burck (Bicho Monstro)
MELHOR MONTAGEM: Joana Bernardes e Thais Fernandes (Uma em Mil)
MELHOR DESENHO DE SOM: Rodrigo Ferrante e André Tadeu (Rua do Pescador N° 6)
MELHOR TRILHA MUSICAL: Renato Borghetti (Rua do Pescador N° 6)
MENÇÃO HONROSA: elenco feminino de Quando a Gente Menina Cresce
MELHOR FILME – JÚRI POPULAR: Quando a Gente Menina Cresce, de Neli Mombelli

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