Dating is a risk.

Direção: Celine Song
Roteiro: Celine Song
Elenco: Dakota Johnson, Chris Evans, Pedro Pascal, Zoe Winters, Marin Ireland, Dasha Nekrasova, Emmy Wheeler, Louisa Jacobson, Eddie Cahill, Sawyer Spielberg, Joseph Lee, John Magaro, Nedra Marie Taylor
Materialists, EUA/Finlândia, 2025, Drama/Comédia/Romance, 116 minutos
Sinopse: Os negócios de uma casamenteira de Nova York (Dakota Johnson) se complicam quando ela se envolve em um triângulo amoroso com seu ex-namorado ator (Chris Evans), que ganha a vida como garçom, e um novo pretendente ricaço (Pedro Pascal).

Uma personagem de Amores Materialistas diz, em determinado momento, que trabalhar como matchmaker é uma tarefa complexa porque envolve lidar com a dor de pessoas que, para aplacar a solidão e o medo da rejeição, estão dispostas a ficar sem roupa para estranhos. Trata-se de uma passagem breve e de um texto interpretado por uma personagem secundária, mas que dá uma interessante dimensão ao que diretora e roteirista Celine Song tenta alcançar — sem muito sucesso — ao longo das outras quase duas horas de projeção do seu mais novo longa-metragem. É como se ali estivesse o vislumbre do que, talvez, Amores Materialistas pudesse ter realmente discutido em detrimento do olhar redundante que acaba lançando para os relacionamentos modernos.
Song parte de um ponto de vista bastante realista: a maneira como hoje as pessoas buscam um relacionamento não pelo seu encantamento ou por seu mistério, e sim pela série de itens que um pretendente precisa gabaritar para ser considerado digno ao posto. Altura, peso, profissão, cor do cabelo, salário anual, gosto musical, preferência por cães ou gatos, nível de vida fitness, roupas, um bom carro, que more em um raio de no máximo dois quilômetros… Exaustivo, para dizer o mínimo. Irreal, na verdade. E, na busca incessante por um alguém perfeito, todos acabam ficando sozinhos e insatisfeitos. Amores Materialistas começa acertando no pragmatismo desse retrato: se você está “apenas” na média, esqueça, ninguém vai se interessar.
A própria protagonista vivida por Dakota Johnson não deixa de se comportar do mesmo modo que as suas clientes em busca do homem perfeito. Mais importante do que o amor é que seu pretendente seja muito rico. Ela, inclusive, terminou uma antiga paixão porque seu namorado era um ator com dificuldades financeiras e que pechinchava o estacionamento mais barato quando saíam para almoçar nos aniversários de namoro. Até que ela encontra Harry, o homem dos sonhos. Vivido por Pedro Pascal, ele trabalha no setor de finanças, mora em um apartamento chiquérrimo, tem dinheiro a beça, é bonito, interessado por ela e… Bom, quem sabe perfeito demais?
A virada a partir daí é óbvia. A antes tão pragmática protagonista começa a perceber que não existe fórmula para se encontrar alguém e que, no frigir dos ovos, amor é amor — e ele não escolhe estatura, cor dos olhos ou conta bancária. Com a mudança da personagem, o filme também muda, e toda a graça que o roteiro vinha ensaiando até ali — às vezes acertadamente, outras com abordagens duvidosas — começa a ir para o ralo. Primeiro porque, aqui, Celine Song nem parece ser a mesma contadora de histórias do belo Vidas Passadas. E segundo porque falta química ao trio principal. Por mais galãs que sejam, ainda estou por ser convencido de que Chris Evans e Pedro Pascal são bons atores. Por fim, não fica muito claro o que o filme quer ser em termos de tom, oscilando em atmosfera sem encontrar unidade.
Como diretora, Celine Song também entrega um filme deveras frustrante. Os romances são inócuos, a comédia não chega a ser fresca e os dramas ficam na superfície, principalmente quando temos uma protagonista sem vida pessoal para além das relações estabelecidas com dois homens: não há uma amiga ou uma familiar com quem ela possa compartilhar seus dilemas. A própria aproximação com uma cliente que se vê envolvida em um caso de violência sexual se dá quase ao final do longa, quando poderia ter sido um ponto importante de sensibilidade ao longo de toda a história. Obviamente as expectativas eram altas após Vidas Passadas, mas jamais era de se esperar que Amores Materialistas fosse tão insípido, básico e, sinto em dizer, desinteressante.