
Fachada do Palácio dos Festivais para a 52ª edição do evento. Foto: Edison Vara/Pressphoto
A 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado começa hoje (9) com a exibição de Motel Destino e a promessa de uma disputa de alto nível pelo Kikito. Exibido na seleção oficial do último Festival de Cannes, o filme de Karim Aïnouz será exibido em Gramado fora de competição, reforçando a reputação do evento de ser a tela preferida para a estreia de obras aguardadas do cinema brasileiro (Retratos Fantasmas, Bacurau e Aquarius, todos de Kleber Mendonça Filho, por exemplo, fizeram sua primeira grande exibição nacional em Gramado).
Até o próximo dia 17, o Festival destrincha uma competição com predominância feminina, onde quatro dos sete títulos selecionados, são dirigidos por mulheres. Também há a mostra competitiva de curtas brasileiros, e aqui vale um adendo: antes programados para serem exibidos apenas no Canal Brasil, como forma de redimensionar o evento em função das dificuldades logísticas enfrentadas pelo Rio Grande do Sul após as enchentes históricas deste ano, as obras, por pressão das entidades do cinema gaúcho, serão exibidas, sim, no Palácio dos Festivais, em dois dias consecutivos.
É uma conquista importantíssima porque a decisão inicial de não exibir os curtas no horário nobre de Gramado revela mais uma vez a percepção crônica de que a classe curta-metragista é “menor” ou “dispensável”. Para esses cineastas, ter seus filmes posicionados juntamente aos longas, no mesmo status de relevância de todos os outros, faz uma diferença tremenda, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional, pois, em alguns casos, pode ser a maior chance de um filme garantir carreira no circuito. A lista completa dos curtas concorrentes está ao final desse post, assim como a de longas-metragens documentais, que traz cinco filmes na busca pelo Kikito.
Chegando às homenagens, a atriz Vera Fischer e a diretora executiva do Festival Internacional de Cinema de Berlim entre os anos de 2019 e 2024, Mariëtte Rissenbeek, completam o time já formado pelo ator Matheus Nachtergaele e pelo diretor e roteirista Jorge Furtado. Enquanto Vera recebe o Troféu Cidade de Gramado (honraria entregue desde 2012 e que, ao meu ver, ainda não tem uma definição exata), Mariëtte será reconhecida com o Kikito de Cristal, antes entregue a personalidades do cinema ibero-americano e agora alçado ao status global.
Os caminhos tomados pelo Kikito de Cristal são intrigantes: se Gramado silenciosamente terminou com a mostra latina que estava em curso desde 1992 após vários anos sem conseguir refletir seu brilho de outrora, quando premiava Norma Aleandro, Pedro Almodóvar, Javier Bardem e Marisa Paredes, a melhor escolha seria mesmo alçar voos mais altos? E por que inaugurar esse novo conceito do troféu com a diretora executiva de um outro festival? Soa como uma estratégica mais política do que artística, algo no mínimo estranho para uma distinção já entregue a nomes como Cecilia Roth, Paulina García e Leonardo Sbaraglia.
Mais informações sobre a 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado podem ser encontradas no site http://www.festivaldegramado.net.
CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS
Ana Cecília (RS), de Julia Regis
A Casa Amarela (PR), de Adriel Nizer
Castanho (AM), de Adanilo
Fenda (CE), de Lis Paim
Maputo (SP), de Lucas Abrahão
A Menina e o Pote (PE), de Valentina Homem
Movimentos Migratórios (BA), de Rogério Cathalá
Navio (RN), de Alice Carvalho, Larinha R. Dantas e Vitória Real
Pastrana (RS), de Melissa Brogni e Gabriel Motta
Ponto e Vírgula (RJ), de Thiago Kistenmacker
Ressaca (MG), de Pedro Estrada
Via Sacra (DF), de João Campos
LONGAS-METRAGENS DOCUMENTAIS
Clarice Niskier: Teatro dos Pés à Cabeça (RJ), de Renata Paschoal
Mestras (PA), de Roberta Carvalho
Poemaria (SP), de Davi Kinski
Toquinho Maravilhoso (SP), de Alejandro Berger Parrado
Velho Chico: A Alma do Povo Xokó (SE), de Caco Souza
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