
Ainda que critérios como criatividade e representatividade sejam colocados pela Film Independent como norte para a votação dos Spirit Awards, nunca é fácil a missão de enfim sacramentar escolhas. Devemos votar simplesmente comomanda o coração? Ou é justo abrir mão de certas preferências para equilibrar uma composição mais representativa de filmes?
Enfim, qual o sentido que buscamos quando tomamos perspectiva e vemos a lista de escolhas que serão submetidas. Tarefa complicada. Entretanto, fiquei para lá de satisfeito com os meus votos para os Spirit Awards de 2024 porque consegui reunir muito do que eu queria dizer com eles. Abaixo, compartilho com vocês as minhas escolhas nas categorias de cinema.
MELHOR FILME
Venceu: Vidas Passadas
Votei: Todos Nós Desconhecidos. A seleção era tão boa que aqui não passava de uma questão identificação. Vidas Passadas é, sem dúvida, um belo vencedor, mas Todos Nós Desconhecido conversa de forma mais íntima comigo.
MELHOR DIREÇÃO
Venceu: Celine Song (Vidas Passadas)
Votei: Andrew Haigh (Todos Nós Desconhecidos), que já vinha trilhando uma bela carreira com filmes como Weekend e 45 Anos. Em Todos Nós Desconhecidos, ele não só mantem o alto nível como se esmera ainda mais no sensorial e na estética.
MELHOR PERFORMANCE PROTAGONISTA
Venceu: Jeffrey Wright (Ficção Americana)
Votei: Trace Lysette (Monica). Fiquei com o coração partido por não votar em Andrew Scott (Todos Nós Desconhecidos), mas Trace Lysette dá show em Monica, um filme denso e que escapa dos caminhos óbvios de filmes sobre redenção. Ela é forte e multifacetada ao navegar nas várias facetas da protagonista-título.
MELHOR PERFORMANCE COADJUVANTE
Venceu: Da’Vine Joy Randolph (Os Rejeitados)
Votei: Ben Whishaw (Passagens), que tem o complicado trabalho de trazer à tona os afetos e as contradições de um personagem preso em um relacionamento tóxico e que, por diversas vezes, atormenta sua vida e suas escolhas aparentemente tão seguras.
MELHOR PRIMEIRO FILME
Venceu: A Thousand and One
Votei: A Thousand and One, em que a diretora A.V. Rockwell dá conta do furacão que é a protagonista e faz excelente parceria com a cantora Teyana Taylor (em seu primeiro papel protagonista no cinema). Um filme simples e cotidiano, mas que traz um diretora com plena propriedade de seus temas e personagens.
MELHOR FILME INTERNACIONAL
Venceu: Anatomia de Uma Queda
Votei: Zona de Interesse, que me assombra mesmo semanas após a sessão, mas fico igualmente feliz pelo vencedor, outro trabalho que considero excepcional.
MELHOR PERFORMANCE REVELAÇÃO
Venceu: Dominic Sessa (Os Rejeitados)
Votei: Dominic Sessa (Os Rejeitados), uma barbada na categoria. Sessa não se apequena ao lado do sempre ótimo Paul Giamatti e tanto conquista terreno próprio no filme de Alexander Payne como estabelece uma excelente sintonia com o seu parceiro de cena.
MELHOR ROTEIRO
Venceu: Cord Jefferson (Ficção Americana)
Votei: Celine Song (Vidas Passadas), que conjugou sobriedade e emoção com imensa delicadeza, fazendo um retrato muito verdadeiro sobre as escolhas que (não) fazemos na vida.
MELHOR PRIMEIRO ROTEIRO
Venceu: Samy Burch (Segredos de Um Escândalo)
Votei: Samy Burch (Segredos de Um Escândalo), que parece ter a experiência de uma veterana com esse roteiro de temas difíceis e que se equilibra em muitas camadas tênues, além do tratamento tão sedutor quanto capcioso dado aos personagens.
MELHOR MONTAGEM
Venceu: Daniel Garber (How to Blow Up a Pipeline)
Votei: Jon Philpot (Acampamento de Teatro), que costuma uma série de histórias e personagens com timing e harmonia. Parte da graça de Acampamento de Teatro se deve ao momo como Philpot administra o estilo de mockumentary com grande êxito.
MELHOR FOTOGRAFIA
Venceu: Eigil Bryld (Os Rejeitados)
Votei: Pat Scola (We Grown Now), pelo contraste entre o lúdico e realista que remonta ao delicado coming of age de dois garotos negros nos Estados Unidos dos anos 1990.