Rapidamente: “Elementos”, “Holy Spider”, “Super Mario Bros.” e “Viver”

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Bill Nighy recebeu sua primeira indicação ao Oscar por Viver.

ELEMENTOS (Elemental, 2023, de Peter Sohn): Do ponto de vista visual e tecnológico, Elementos exigiu um esforço descomunal da Pixar. Foram mais de 150 mil tons de cores utilizados na paleta, o que exigiu do estúdio novos computadores para a produção. É um número impressionante se compararmos, por exemplo, com o clássico Toy Story, que contabiliza apenas 294 tons. O resultado é perceptível na tela, muito em função da extensa gama de universos que coexistem na trama, com foco nos personagens de fogo, inspirados na vida do próprio diretor Peter Sohn, que se mudou da Coréia para os Estados Unidos sem falar uma palavra sequer em inglês. Esteticamente, trata-se mesmo de uma festa para os olhos — talvez mais pela quantidade de personagens e cenários do que pelo conceito em si —, o que sustenta bastante o entretenimento diante de uma história sem grandes insights. Falta tempero ao clássico conflito envolvendo dois personagens de universos opostos que criam um laço afetivo para desgosto dos pais e das tradições. Os protagonistas são simpáticos e o modo como Elementos brinca com o cruzamento entre dois mundos também, mas o roteiro escrito pelo trio Brenda Hsueh, John Hoberg e Kat Likkel é plano ao lidar com dilemas que a própria Pixar já explorou um sem número de vezes vezes. E o fato de Peter Sohn não ser um diretor exatamente inventivo deixa Elementos limitado à escala do apenas simpático.

HOLY SPIDER (idem, 2022, de Ali Abbasi): Na cidade iraniana de Mashad, prostitutas começam a ser assassinadas, e a suspeita é a de que há um serial killer metódico envolvido nos crimes. Intrigada pela situação, uma destemida repórter (Zar Amir Ebrahimi, premiada como melhor atriz no Festival de Cannes por seu desempenho) viaja até o local para escrever sobre o caso e abraça a investigação munida de fortes convicções e posicionamentos, a ponto de se envolver mais do que o esperado em todo o enredo. Holy Spider, portanto, nos dá a ideia de esse será o centro da trama, inclusive porque seria o ponto de vista natural para um filme que se propõe a abordar a misoginia. Não é o que acontece porque o diretor e roteirista Ali Abbasi opta por dar imenso enfoque ao fanático religioso vivido por Mehdi Bajestani, descortinando em pouco tempo a identidade do serial killer e seu modo de operar. Apesar da discussão envolvendo o fanatismo religioso funcionar, a questão sobre misoginia e a forma como aquela população em específico trata as mulheres acaba ficando em segundo plano. A falta de equilíbrio entre duas tramas paralelas prejudica Holy Spider e evidencia a falta que uma diretora mulher faz na cadeira de direção, principalmente na escrita do roteiro, afinal, é um tanto quanto inexplicável o escanteamento de uma personagem feminina que tinha muito mais a dizer em todos os sentidos.

SUPER MARIO BROS. – O FILME (The Super Mario Bros. Movie, 2023, de Aaron Horvath, Michael Jelenic e Pierre Leduc): A incursão da Nintendo na produção de longas-metragens vem quebrando recordes. Somente até a data de publicação deste texto, Super Mario Bros. – O Filme já se tornou a terceira maior bilheteria para uma animação no mundo, algo perfeitamente compreensível se considerarmos o capital nostálgico de um personagem que marcou incontáveis gerações, sejam elas gamers ou não. Não é diferente comigo: muito da minha infância girou em torno das versões de Super Mario World e Super Mario Kart para o Super Nintendo, garantindo a minha cota de afeto para um filme que, justamente por ser baseado em um verdadeiro hit, tinha desafios de mesmas proporções. Não que a adaptação careça de carisma ou fan service, mas falta história mesmo no roteiro escrito por Matthew Fogel. Há também fragilidades difíceis de esconder, como a participação de Luigi, inicialmente colocado em pé de igualdade no protagonismo com Mario para depois praticamente ser esquecido pela trama, ainda que a missão central seja seu resgate. Reconheço, entretanto, que a nostalgia bate de maneiras muito diferentes no público e que ela pode ser um fator decisivo na apreciação da obra. Como os números vem provando, Super Mario Bros. acertou em cheio ao apostar nela. Colorido, acelerado e com várias tiradas, o filme capta bem o espírito do game ao mesmo tempo em que evidencia uma possível franquia, mas muito ainda a ser amadurecido em termos de narrativa.

VIVER (Living, 2022, de Oliver Hermanus): Sem ter visto o longa de 1952 dirigido por Akira Kurosawa, conferi Viver impossibilitado de tecer comparações com a obra original, o que, às vezes, costuma ser uma bênção. Devo conferir em breve o trabalho de Kurosawa para quitar essa dívida, mas o que posso dizer é que o remake dirigido pelo cineasta sul-africano Oliver Hermanus tem seu maior trunfo na interpretação do grande Bill Nighy. Ele interpreta um personagem conhecido como sr. Williams, funcionário público de Londres que busca manter a ordem em uma montanha de trabalhos burocráticos. Sobrecarregado e solitário em casa, ele recebe um diagnóstico médico que lhe dá pouco tempo de vida pela frente. O conflito em questão já foi explorado de mil e uma maneiras pelo cinema, e não é como se essa refilmagem propusesse algo de novo 70 anos após o lançamento do longa original. Só que Bill Nighy é um legítimo representante do que existe de melhor nos intérpretes britânicos, das sutilezas ao minimalismo, e evita tratar o protagonista como uma grande vítima do destino, mas sim de suas próprias escolhas e de um instransponível jeito de ser. Se o trabalho vocal já chama a atenção — Nighy fala baixíssimo, revelando um protagonista em constante autorrepressão —, Viver ainda dá ao ator momentos de “vá lá e brilhe”, como quando ele canta “The Rowan Tree” em uma noite boêmia. Vale, entretanto, o aviso: boa parte do que conhecemos do personagem vem da maneira como outros o enxergam em casa ou no trabalho, o que causa uma certa frustração por não vermos mais de Nighy e, principalmente, pelo remake nem sempre acertar no equilíbrio entre as perspectivas que formam o protagonista.

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