Filmes em DVD

Desejo e Reparação, de Joe Wright (revisto)

Com Keira Knightley, James McAvoy e Saoirse Ronan

Apesar de Desejo e Reparação não ser mais o meu filme favorito do ano, continua sendo o mais belo e poético. Cada vez que tenho a oportunidade de rever esse longa, fico cada vez mais encantado com a impecável produção – desde a bela direção de arte, a linda fotografia e os elegantes figurinos. Sem falar da perfeita trilha sonora do Dario Marianelli (o Oscar não foi um prêmio de consolação). Continuo tendo um certo problema com o segundo ato, quando Robbie (James McAvoy, evoluindo a cada trabalho) vai para a guerra, que é quando o roteiro perde o seu ritmo; mas é igualmente apreciável, especialmente por causa da seqüência sem cortes que o diretor Joe Wright fez mostrando os horrores da guerra. Alguém me explica como ele não foi indicado a melhor diretor e Jason Reitman foi?! O elenco é um acerto e todas as atrizes que interpretam Briony Tallis – a revelação Saoirse Ronan, a ótima Romola Garai e a veterana Vanessa Redgrave – deixaram grande marcas. Com um final surpreendentemente emocionante (ao menos para mim, que não tinha conhecimento da obra de Ian McEwan), Desejo e Reparação pode ser considerado um filme ultrapassado e formulaico para muitos. Eu vi uma obra brilhante e linda, que merecia um pouquinho mais de reconhecimento do público.

FILME: 9.0

Onde Os Fracos Não Têm Vez, de Joel e Ethan Coen (revisto)

Com Josh Brolin, Javier Bardem e Tommy Lee Jones

O grande vencedor do Oscar desse ano é um filme extremamente eficiente – envolve, cria tensão e é ágil em sua narrativa. Mas, por alguma razão, não é memorável e não deixa maiores impressões depois da sessão.  Principalmente se comparado com os seus outros concorrentes no Oscar. Por isso, muita gente estranhou que a Academia tenha premiado um filme tão diferente como esse. Onde Os Fracos Não Têm Vez parece um filme sem mensagem, mas não é; ela está implícita, é um estudo sobre a violência e seus limites. Basta prestar bem a atenção para perceber. Cru e seco, o longa dos irmãos Coen é um belo exercício de tensão e uma grata surpresa desse ano. Muito bem produzido e com um ar de produção independente, tem inúmeros aspectos positivos, como a bela montagem e a fotografia. Mas existe algo que brilha mais do que tudo. E esse algo é a marcante interpretação do espanhol Javier Bardem (o grande vencedor de prêmios da temporada), enigmático e literalmente um vilão de dar medo. Nem Heath Ledger conseguiu ser mais vilão do que ele.

FILME: 8.5

O Auto da Compadecida, de Guel Arraes

Com Matheus Nachtergaele, Selton Mello e Fernanda Montenegro

Baseado no texto do escritor Ariano Suassuna, O Auto da Compadecida é um dos maiores sucessos do cinema brasileiro – até porque já foi reprisado exaustivamente na televisão. Eu nunca havia conferido o longa, portanto, estava livre daqueles preconceitos que se criam em torno dessas obras irritantementes repetidas na telinha. Acabei me divertindo bastante o resultado, que tem praticamente toda a sua excelência calcada no talento de seus atores e na inteligência dos rápidos diálogos. A direção de arte é outro excelente ponto de O Auto da Compadecida, auxiliando na ótima comédia que é apresentada para o espectador. Pena que a Fernanda Montenegro só vá aparecer nos últimos atos (que são os mais fracos), com uma participação não muito marcante. De qualquer forma, é um longa a ser apreciado.

FILME: 8.0

Do Luto à Luta, de Evaldo Mocarzel

Documentário

As pessoas portadoras da síndrome de down são e sempre foram vítimas do preconceito. O documentário Do Luto à Luta, consagrado com o prêmio especial do júri no festival de Gramado, não se preocupa em dissecar os dramas que essas pessoas vivem e muito menos em apelar para emoções baratas. O longa quer mostrar que, mesmo com tantos problemas, existe esperança para essas pessoas e que as dificuldades são meros obstáculos – elas podem dançar, estudar, andar a cavalo, transar e namorar. Basta ter empenho. Nesse sentido, Do Luto à Luta é um belo retrato sobre a humanidade dos portadores da síndrome de down e os envolvidos (principalmente os pais). Como cinema, o filme não foge daqueles principais problemas que tanto me incomodam em documentários, especialmente a repetição à exaustão do tema. Porém, o filme tem em seu benefício uma curta duração e um tema interessante.

FILME: 7.5

Minha Adorável Lavanderia, de Stephen Frears

Com Gordon Warnecke, Daniel Day-Lewis e Rita Wolf

Primeiro filme do diretor Stephen Frears (um dos meus favoritos) que não conseguiu me cativar em nenhum momento. Acho que o principal erro de Minha Adorável Lavanderia está em seu roteiro, que não parece se decidir muito bem em sua proposta. Ele tenta criar uma história de amor homossexual ao mesmo tempo em que trabalha o cotidiano de uma família oriental e o grande empenho de um garoto para tentar ser independente no mundo dos negócios. As situações são milimetricamente divididas e fica difícil entender qual a principal trama da história. Contudo, Frears conduz todo o longa de forma competente como sempre, mantendo o interesse e a agilidade da trama. O destaque fica com a dupla Gordon Warnecke e Daniel Day-Lewis, ambos dando muita verossimilhança aos seus personagens.

FILME: 7.5

Se Eu Fosse a Minha Mãe, de Gary Nelson

Com Jodie Foster, Barbara Harris e John Astin

Esse é o filme que deu origem para o recente Sexta-Feira Muito Louca, com Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis. As produções são bem diferentes, e a nova versão se deu a liberdade de inventar coisas que não existiam nesse original. Se Eu Fosse a Minha Mãe é uma comédia muito sincera com aquela velha premissa que todo mundo conhece sobre uma mãe que troca de corpo com a filha durante um dia inteiro. Jodie Foster, muito jovem e em início de carreira, é a protagonista; e desde já mostrava grande talento e simpatia (seu trabalho até lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz comédia/musical). Barbara Harris, como a mãe, não fica nem um pouco atrás, brilhante. O filme de Gary Nelson não traz nada de novo e nem vai fazer o espectador dar risadas, mas cada minuto é de uma humildade única, tudo singelo e nostálgico. Para a época, devia ter sido uma bela diversão. Destaque para a música de abertura, I’d Like To Be You For a Day.

FILME: 7.5

Sobre Café e Cigarros, de Jim Jarmusch

Com Cate Blanchett, Bill Murray e Alfred Molina

União de vários curtas de mesmo tema bem ao estilo de Paris, Te Amo, só que em menor quantidade que o longa francês. São eles: Strange To Meet You, Twins, Those Things’ll Kill Ya, Jack Shows Meg His Tesla Coil, Somewhere In California, Renée, No Problem, Cousins, Cousins?, Delirium e Champagne. O diretor Jim Jarmusch é uma pessoa estranho – metido a cult, realiza longas sempre do mesmo estilo. Eu, que não gostei de Flores Partidas, não esperava muita coisa desse Sobre Café e Cigarros. O resultado é até interessante, pena que a proposta não foi tratado com originalidade. Era pra ser uma coletânea de histórias sobre pessoas conversando diversos assuntos enquanto tomam café e fumam cigarros em cafeterias. Certas histórias funcionam só por causa dos atores – é o caso de Delirium, com Bill Murray – e outras funcionam também por causa do roteiro. Destaco bastante Cousins, com Cate Blanchett inspiradíssima contracenando com ela mesma e Cousins? onde Alfred Molina interpreta… Alfred Molina! Sobre Café e Cigarros tem todos aquele clima “quero ser cult” de Jim Jarmusch, que até fotografia preto-e-branco resolveu usar! E aqui o clima funciona. É uma boa diversão, e só. Para um público bem seleto.

FILME: 7.0

17 comentários em “Filmes em DVD

  1. Desejo e Reparação é mesmo um filmaço, um dos melhores do ano, com aquela produção classuda. Gosto muita da trilha sonora, mas a fotografia é excelente também. E embora o trio que interpreta a Briony seja muito bom, a melhor atuação pra mim ainda é de James McAvoy, impecável. E concordo que o roteiro cai um pouco em qualidade no segunda metade.

    Onde os Fracos Não Têm Vez é o filme do ano pra mim. Tem ação, adrenalina, mas é totalmente articulado e eficiente, com um texto potencialmente cortante. É também um filme sobre a passagem do tempo, a evolução da violência na sociedade atual e de como isso modificou o ser humano de hoje. Tudo isso nas entrelinhas. Javier Bardem é a própria encarnação do mal.

    E concordo com o Hugo, O Auto da Compadecida é a melhor comédia que o cinema brasileiro já fez. É quase um clássico. O texto é uma obra-prima, sem exageros.

    Já Do Luto à Luta é bem interessante, mas muito auto-piedoso, e um toma partido para um tema que não precisava. O fato do diretor ter feito o filme por causa da filha que tem Down pareceu causar uma sensação de proximidade muito grande que acaba enfraquecendo o filme.

  2. Hugo, concordo quando você diz que “Sobre Café e Cigarros” é um filme para o público de Jim Jarmusch.

    Wally, e parece que agora “Onde Os Fracos Não Têm Vez” começou a ficar em baixa entre os cinéfilos.

    Luis Fernando, só tive a oportunidade de assistir “O Auto da Compadecida” agora. Nem nas inúmeras repetições na TV eu tinha conferido. O meu filme favorito de 2008, por enquanto, é “WALL-E”.

    Kau, sempre tive muita implicância com a Keira (até hoje não entendo aquela indicação por “Orgulho e Preconceito”), mas até que ela me convenceu nesse filme.

    Pedro, fico muito em dúvida se o Oscar de direção devia ter ido para os Coen ou para o Paul Thomas Anderson!

    Anderson, eu acho que prêmios demais foram dados para “Onde Os Fracos Não Têm Vez” em um ano que tinha muitos outros filmes merecedores de citações, mas eu não chego a achar que o longa é superestimado.

    Robson
    , “Desejo e Reparação” ficou um longo tempo como o meu filme favorito do ano.

    Vinícius
    , eu acho “Desejo e Reparação” muito subestimado.

    Roberto, eu não consigo ver nenhum encanto nas obras do Jarmusch…

    Sérgio
    , o melhor da lista pra mim é “Desejo e Reparação”.

    Kamila, realmente, só a Cate se sobressai em “Sobre Café e Cigarros”. Mas também gostei muito do Alfred Molina.

    Mark, “Desejo e Reparação” é um filme belíssimo! Mas é um filme de arte…

  3. Uma senhora muito encantadora me indicou “Desejo e Reparação”, enquanto estava assistindo “Across The Universe” na Mostra Internacional que aconteceu na Avenida Paulista.

  4. Dos filmes citados, só vi três:

    DESEJO E REPARAÇÃO: Eu amo este filme. Acho quase perfeito, se não fosse aquele segundo ato chato. Acho que é a prova do talento de Joe Wright como diretor.

    ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ: Não entendo o por quê deste filme ter vencido o Oscar principal deste ano. Acho uma boa obra, que faz reflexões interessantes, mas assisti filmes bem melhores em 2007.

    SOBRE CAFÉ E CIGARROS: Não gosto muito de filmes que intercalam vários segmentos distintos, porque acho que a maioria deles são muito irregulares. Este é o caso deste filme do Jim Jarmusch. Acho que somente a Cate Blanchett se sobressai (como sempre, aliás).

  5. O primeiro nessta lista para mim seria Onde os fracos não têm vez, seguido de O Auto da Compadecida e Desejo e Reparação…

    vlws

  6. Dessa lista os que eu mais gostei foram Desejo e Reparação (como você mesmo disse: poético!) e O Auto da Compadecida (sou louco pela obra do Suassuna). Quanto aos filmes do Coen e do Jarmusch, com a revisão feita perderam parte do seu encanto. Parecem ser produções para serem apreciadas uma única vez e guardadas no imaginário.

    Mídia? Cultura? Acesse:
    http://robertoqueiroz.wordpress.com

  7. Dos filmes citados, só vi os três primeiros:

    DESEJO E REPARAÇÃO [9.0 ou 5/5] Realmente é um filme belo e poético, até mesmo subestimado por alguns. Acho que não tem nenhum aspecto muito inovador, por isso mesmo encanta pelo resultado excepcional.

    ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ [8.0 ou 4/5] É um belo trabalho dos Coen, mas ao contrário de “Atonement”, acho que esse foi superestimado.

    O AUTO DA COMPADECIDA [8.5 ou 4/5] Sem dúvida um dos melhores nacionais que já vi, inclusive a minissérie é ainda melhor – cortaram muitas cenas importantes para essa versão de cinema.

  8. Filmes bons e marcantes, os primeiros. Desejo e Reparação pra mim foi um dos melhores filmes do ano. Onde Os Fracos Não Têm Vez é ótimo mas não acho que devia ter ganho. E o Auto da Compadecida é um filme excelente com ponto altíssimos pra interpretações de Selton e Mateus! Fantásticos!

  9. Nossa, só filmes bem legais. Só não gosto mto mesmo do NO COUNTRY FOR OLD MEN q acho superestimadíssimo.

  10. “Desejo e Reparação”: viva “Na Natureza Selvagem”!

    Onde os Fracos Não Têm Vez: é Coen brothers né!!! Baita filme, atuações excelentes e clímax impecável. Oscar de direção merecidíssimo!

    O Auto da Compadecida: cinema nacional de qualidade. Adoro rever esse filme (e ainda dou risada)…

    Abraço!

  11. Matheus, vamos por partes:

    – Desejo e Reparação: apesar de achá-lo um deslumbre visual, eu tenho alguns problemas com o roteiro (uma adaptação meio equivocada) e, principalmente, com Keira e James (este eu acho um ator fraco).

    – Onde os Fracos…: muito, mas muuuuito interessante. Entretanto, não entrou no meu top 5. A direção dos Coen é impressionante.

    – O Auto da Compadecida: acho caricato demais, entretanto adoro. Toda a sequência do ”julgamento” é bem feita.

    – Minha Adorável Lavanderia: bem simpático. Perde o ritmo, mas Day-Lewis já provava que seria um ator extraordinário.

    – Sobre Cafés e Cigarros: esse é um caso à parte. Adorei do início ao fim!! Apenas fiquei decepcionado com dois dos curtas (Those Things’ll Kill Ya e Renée); inclusive eu adoro Flores Partidas.

    Abraços.

  12. O Auto da Compadecida foi o primeiro filme que vi no cinema. Nota: 8.9

    Onde os Fracos Não Tem Vez, Nota: 8.9

    Desejo e Reparação, Nota: 9.0

    Foi os que eu assisti.

  13. Vi os dois melhores. Ambos excelentes. Atonement e No Country são grandes obras de arte mesmo.

    Ciao!

  14. O Auto da Compadecida é uma das melhores comédias e ao mesmo tempo crítica social do cinema brasileiro, apesar de que a minissérie era mais completa e o filme acabou sendo bem cortado.

    Minha Adorável Lavanderia vale pelo tema do preconceito contra imigrantes que naquele tempo já era grande no Reino Unido e dos homossexuais, além das boas interpretações.

    Se Eu Fosse Minha Mãe deve ter sido a primeira comedia a enfocar a troca de corpos, tema imitada a exaustão.

    Sobre Café e Cigarros é um filme para o público de Jarmusch, as pequenas histórias foram filmadas em diversas épocas e como todo filme desse tipo acaba ficando desigual. Mesmo assim tem cenas interessantíssimas.

    Abraço

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